domingo, 24 de janeiro de 2016

MINI-HÁBITOS X GRANDES INTENÇÕES

Sabe aqueles projetos, compromissos e promessas de final de ano que todos fazemos? Bem, as estatísticas indicam que apenas 8% serão realizadas. Isso indica que não basta ter boas intenções e pensar grande. Na verdade, tudo indica que o contrário é que é verdadeiro: pensar grande cria desmotivação e não motivação e concretização.

Um exemplo meu: o nosso site Psicologia MSN tem mais de 1.100 textos! O que equivale a 3 livros relativamente grandes. Se, quando comecei o site, ainda como um blog, eu tivesse em mente que escreveria tanto, isso me pareceria distante e quase impraticável. Felizmente, ao menos no que tange à escrita, eu sempre tive um lema parecido com o de Guise: escrever um pouco por dia. Escrever um texto de 1.000 palavras, mais ou menos uma página e meia do Word, era desde o começo a ideia central.

E, como diz o ditado, de grão em grão a galinha enche o papo. Então, vemos que é importante ter confiança de que os nosso projetos e ideias darão certo. Mas se pensarmos em passos que estão ainda muito distantes, não daremos o primeiro.

Um exemplo, talvez mais fácil de visualizar, é do próprio Guise. Ele menciona que gostaria de começar a se exercitar, frequentar uma academia, emagrecer e ter uma rotina constante de atividade física. Porém, quando ele pensava em fazer 50 flexões e 100 abdominais, ele paralisava ou deixava para depois.

Até que um dia, fazendo um exercício de criatividade no qual procuramos pensar o contrário do que estamos pensando, ele refletiu: “se fazer 50 flexões parece para mim que eu estaria subindo o monte Everest, e se eu pensar diferente? O que seria diferente de fazer 50 flexões?”

O insight que ele teve foi: “vou fazer apenas uma única flexão. Fazer uma única flexão é fácil. Eu posso fazer isso. Eu consigo. Para uma única flexão não existe resistência”.

E foi o que ele fez. E, a partir daí, ele começou a notar a força dos mini-hábitos.

O CONCEITO DE MINI-HÁBITOS

Fazer uma única flexão. Escrever um único texto. Ler duas páginas de um livro. Comer agora um pouco mais de salada. Meditar por cinco minutos.

Sem reclamação em 2016

Não tenho a expectativa (me esforço com todas as forças) de que as coisas, pessoas e acontecimentos fiquem nos seus devidos lugares sempre, sei elas vão mudar.

- Sei que as vezes essas situações podem ser difíceis, dolorosas e contraiam a nossa vontade e conforto. Elas me provocam emoções desconfortáveis, me lembram do que considero valioso na vida e parece que fico mais lúcido.

- Não tenho dó de mim mesmo, do tipo "poxa, eu que sou blábláblá e não merecia isso". Esse veneno de se sentir privilegiado, especial ou com maior merecimento por ser bom, justo, correto, legal (preencha com qualquer virtude) é uma das maiores arrogâncias emocionais que conheço. O que faço de esforço não me garante nenhum lugar melhor ou protegido na existência, estou passível de qualquer coisa terrível mesmo depois de ajudar quem quer que seja. Isso não me torna melhor e nem pior.

- Mantenho uma absoluta curiosidade em saber como vou me sair diante de imprevistos.

- Não acho que as coisas deveriam ser de outro jeito do que elas são ou se tornam, mesmo que no fundo eu gostasse que elas fossem de outro jeito.

- Acho que a melhor maneira de lidar com as mudanças indigestas é degustar cada etapa dela sem achar que consigo me adiantar ao futuro.

- Não acho que alguém deva intervir ou me amparar diante da minha jornada (já notou que quem reclama parece estar falando com alguém que iria resolver o problema dela ou deveria estar velando por sua invencibilidade), no máximo posso pedir ajuda das pessoas caso as coisas fiquem pesadas de mais, mas em última instância eu tenho que arregaçar as mangas e fazer.

- A reclamação surge de uma contrariedade de ser demandado ou requisitado a lidar com algo que não deveria estar ali, portanto, se não acho que as coisas deveriam estar aqui ou acolá eu simplesmente lido com elas na medida que mudam ou que surgem.

- Gosto de testar minha capacidade de lidar com situações delicadas, normalmente eu tiro boas lições daquilo (só depois de um tempo me faço essa pergunta, não fico tentando deduzir que lição que está rolando no momento) e no final acabo ficando um pouco mais preparado para lidar com elas.

- Ao invés de me concentrar em descobrir, culpar a causa de uma coisa eu procuro me debruçar em como resolver o pepino. Já vi gente não resolvendo uma questões urgente porque estava reclamando ou tentando achar um culpado. 

Acho que listei tudo o que me veio na cabeça sobre isso. Espero que tenha ajudado você a ter um 2016 com menos reclamação.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Aceitar o inaceitáve

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Ninguém que pisou nessa Terra pôde se ver livre de lidar com dores difíceis, perdas delicadas e frustrações viscerais. A pobreza, a doença, o fracasso, a perda e a morte nos rondam a todo momento.
De alguma forma cada pessoa encontra seu jeito de evitar lidar com essas questões. Alguns trabalham ininterruptamente, outros acumular pertences e bens, há os que tentam injetar alegrias e eventos o tempo todo e também aqueles que se apagam emocionalmente para não sentir nada.
Me lembro de uma mulher que atendi que não conseguia aceitar a morte de seu jovem filho em um acidente de moto. Pelo menos dez anos tinham se passado do desastre e ela desenvolveu um comportamento raivoso, agredia a todos e sentia sempre no direito de colocar o dedo na ferida de qualquer um que quisesse se aproximar mais dela. Culpava o marido pelo acontecimento por ter presenteado o filho com a moto, e isso levou eles a um divórcio bem problemático. Essa mulher se tornou um espinho ambulante oscilando entre envenenar a si mesma com muita piedade de si e aos outros repassando a dor que sentia.
Ela me buscou tentando entender o motivo daquela tragédia, a racionalização era o jeito que ela buscava para driblar a dor. Fiquei me perguntando por que ela insistia em fazer terapia comigo, na época com vinte e sete anos, talvez visse alguma conexão com seu filho. Estranhamente eu era a única pessoa e terapeuta que ela não havia atacado ou desqualificado. Dizia que ninguém entendia sua dor, e mesmo eu dizendo que não entendia também ela não me atacava.
– Não sei dizer ao certo – disse para ela em certa ocasião – se a morte nos convida a entender seus motivos. A morte me parece ser uma mãe bem discreta que surge, abraça seus filhos silenciosamente e os alivia das obrigações dessa vida. Não me parece muito perspicaz perguntar para uma mãe o motivo de ter feito o que fez pelo seu filho, ela simplesmente faz algo e contemplamos. Existem coisas para as quais precisamos colocar os pés no chão e simplesmente olhar como são.
Ela nunca tinha pensado na morte como uma mãe e disse que uma mãe nunca enterraria o seu filho.
– Mães fazem coisas muito difíceis pelos seus filhos – continuei – e seus motivos são insondáveis. Mas a cada vez que brigamos com aquilo que não temos controle parece que perdemos força ao invés de ganhar. A força vem de uma dose de aceitação daquilo que está alem de nós. Quando aceitamos aumentamos de tamanho, mas quando brigamos com a realidade diminuímos, pois brigamos com as forças da vida.
Tivemos outras tantas e muitas conversas, mas ela disse que essa em especial a tocou profundamente.
Olhar a morte como uma mãe, relatou-me tempos depois – me fez sentir que meu filho estava bem cuidado e que eu precisava seguir em frente, ele nunca teria gostado de me ver agindo como uma doida varrida.
A realidade dolorosa que teimamos em aceitar é como aquele momento da colheita que vem recolher seus frutos para abrirem espaço para outra nova estação. Deter o fluxo da vida, brigar com os acontecimentos incontroláveis só traz ansiedade, aflição desnecessária e perda de força.
O único caminho para lidar com o inevitável é manter os pés no chão, com menos certezas, presunções e arrogância, seguindo em frente, ainda que mais lentamente…