O psiquiatra, psicoterapeuta e escritor Dr. Augusto Cury estuda o cérebro há mais de 30 anos. É pesquisador na área de qualidade de vida e desen- volvimento da inteligência, abordando a natureza, a construção e a dinâmica da emoção e dos pensa- mentos. Com grande reconhecimento nacional e internacional, foi considerado pela Folha de São Paulo o autor mais lido da última década, já escreveu 35 livros e vendeu mais de 90 milhões de exemplares. Seus livros são publicados em cerca de 60 países. Recebeu o prêmio de melhor ficção do ano de 2009 da Academia Chinesa de Literatura, pelo livro – O Vendedor de Sonhos – que em 2015 será lançado como filme nos cinemas. Dr. Augusto Cury é autor da teoria Inteligência Multifocal, que analisa o processo de construção dos pensamentos, sendo um dos poucos pensadores vivos cuja teoria é estudada em cursos de mestrado e doutorado nos EUA, Europa e Brasil. É doutor Honoris causa pela UNIFIL (Centro Universitário Filadélfia, em Londrina/PR) e membro de honra da Academia de Sobredotados do Instituto da Inteligência, da cidade do Porto, Portugal. O livro Ansiedade: como enfrentar o mal do século, lançado no início deste ano, está na lista dos mais vendidos, segundo a revista Veja. Nesta entrevista exclusiva à Revista Saúde Interativa, o Dr. Augusto Cury fala sobre alguns temas como ansiedade, depressão e a síndrome do pensamento acelerado.
Revista: O que gera a ansiedade, quais as causas?
Augusto Cury: No mundo atual, tudo é urgente, rápido, nossas mentes nunca estiveram tão agitadas e estressadas como agora e quando o estresse é intenso gera ansiedade, irritabilidade, bloqueia a memória e a criatividade. O desdobramento de tudo isso é a perda da paciência e da tolerância, a instalação da superpreocupação entre outros, consequentemente, aumenta-se o estresse, gerando mais ansiedade, consolidando a instalação de um círculo vicioso.
Revista: Pode ser considerada uma doença?
Augusto Cury: A ansiedade crônica (contínua) pode causar inúmeros sintomas e doenças psicossomáticas, hipertensão, taquicardia, nó na garganta, queda de cabelo e doenças autoimunes. É provável, inclusive, que desencadeie, acelere ou influencie a evolução de determinados tipos de enfarto e de câncer. Já a ansiedade vital torna-se uma ansiedade doentia quando contrai o prazer de viver, a criatividade, a generosidade, a afetividade, a capacidade de pensar antes de reagir, a habilidade de se reinventar, o raciocínio multifocal, entre outros.
Revista: O que acontece quando não for tratada a ansiedade?
Augusto Cury: A hiperconstrução de pensamentos transforma a ansiedade em algo asfixiante: quem tem uma mente agitada, quem é uma máquina de pensar e de se informar, ultrapassou os limites saudáveis da movimentação psíquica e desenvolverá a S.P.A. (Síndrome do Pensamento Acelerado). A SPA é como um filme editado em altíssima velocidade. Se o Eu não construir cadeias de pensamentos numa direção lógica e coerente, fenômenos inconscientes as produzirão. Com uma mente hiperacelerada tornamo-nos pessoas que repetem os mesmos erros, estamos constantemente irritadiços, com baixo limiar para frustrações, sem capacidade de adaptação a contrariedades, sofremos de insatisfação crônica e temos o rendimento intelectual comprometido.

Revista: No livro Ansiedade: como enfrentar o mal do século, sua 35ª obra, o senhor fala sobre a Síndrome do Pensamento Acelerado, considerando ser mais nociva que a depressão. Por que isso vem acontecendo?
Augusto Cury: A SPA atinge pessoas de todas as idades, de alunos a professores, de intelectuais a letrados, de médicos a pacientes. Sem perceber a sociedade moderna – consumista, rápida e estressante – alterou algo que deveria ser inviolável, o ritmo de construção de pensamentos, gerando consequências seríssimas para a saúde emocional, comprometendo o prazer de viver, o desenvolvimento da inteligência, a criatividade e a sustentabilidade das relações sociais. Por causa da Síndrome do Pensamento Acelerado passamos a viver uma vida agitada e imensamente rápida em nossa mente, temos nossa percepção de tempo comprometida, vivemos mais tempo biologicamente, mas morremos mais cedo emocionalmente. A medicina significou um avanço ao prolongar a vida, mas o sistema social da maneira como se encontra tem contraído o tempo emocional. Uma outra grave consequência da SPA é que uma pessoa agitada, vítima da hiperconstrução de pensamentos, não consegue expandir a sua capacidade de filtrar estímulos estressantes, não consegue proteger a sua emoção, torna-se, frequentemente, hipersensível, e qualquer crítica, ofensa, insatisfação, preocupação excessiva consigo ou com o outro, o afeta de maneira potencializada.
Revista: Como o senhor analisa o pensar em excesso?
Augusto Cury: Pensar é bom, pensar com lucidez é ótimo, porém pensar demais é uma bomba contra a saúde psíquica, o prazer de viver e a criatividade. Como analisado anteriormente, muitos entre os melhores profissionais padecem desse mal; são ótimos para sua empresa, mas carrascos de si mesmos. Desacelerar nossos pensamentos e aprender a gerir nossa mente são tarefas fundamentais.
Revista: O que o senhor aconselha para as pessoas que sofrem por antecipação e consequentemente vivem ansiosas?
Augusto Cury: Na SPA a alteração não é metabólica, a estrutura está ligada diretamente ao funcionamento da mente e à compreensão sobre como a mente funciona, portanto, deve ser corrigida com técnicas, em especial a técnica DCD (Duvidar, Criticar e Determinar). Se quisermos desenvolver saúde emocional é necessário aprender a gerenciar os pensamentos e nossas emoções, tirar o EU da plateia e colocá-lo no palco, para assumir o controle, a liderança de si mesmo, como autor da própria história.

Augusto Cury: Quando vemos crianças e adolescentes agitados e rebeldes, logo colocamos a culpa nos pais, porque são relapsos, não colocam limites ou não transmitem valores. Sim, é possível dizer que há pais com esse perfil, mas o fato é que a maioria dos pais está completamente perdida. Não conseguem colocar limites, não conseguem educar. Vão repetindo os mesmos erros. Ao EU acelerado pertence o imenso grupo de pessoas em todo o mundo, em todas as sociedades modernas, de crianças a idosos que se entulham de informações, atividades e preocupações. E, consequentemente, excitem o fenômeno do Autofluxo a produzir pensamentos numa velocidade nunca vista, gerando a Síndrome do Pensamento Acelerado.
Revista: A vida está se encaminhando para um tempo que pede uma desaceleração e mais qualidade de vida. Com sua experiência, como o senhor vê que isso seja possível?
Augusto Cury: No livro, eu cito 8 passos para gerenciar a SPA, sendo eles: 1) Capacitar o Eu para ser autor da própria história, 2) Ser livre para pensar, mas não escravo dos pensamentos, 3) Gerenciar o sofrimento antecipatório, 4) Fazer a higiene mental através da técnica do DCD, 5) Reciclar as falsas crenças, 6) Não ser uma máquina de trabalhar, 7) Não ser uma máquina de informações e 8) Não ser um traidor da qualidade de vida. Devemos ter coragem para velejar dentro de nós mesmos, reconhecer nossas fragilidades, admitir nossas loucuras, corrigir rotas e nos educar para sermos autores da nossa própria história, enfim, termos um caso de amor com a vida.
Revista: A Síndrome do Pensamento Acelerado, a depressão e a ansiedade são o mal do século?
Augusto Cury: Não há dúvida de que a depressão abarca um número assombroso de pessoas na sociedade moderna. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 1,4 bilhão de pessoas, cedo ou tarde, desenvolverá o último estágio da dor humana, o que corresponde a 20% da população do planeta. Mas, a Síndrome do Pensamento Acelerado provavelmente atinge mais de 80% dos indivíduos de todas as idades, sendo assim o grande mal do século.
Revista: Porque as pessoas têm cada vez mais depressão? O que está acontecendo com a humanidade?
Augusto Cury: A depressão atinge 20% das pessoas no mundo todo. Quem não aprende a proteger sua emoção, tem chances de desenvolver diversos transtornos entre eles a depressão. O cárcere psíquico é capitaneado por doenças psicossomáticas, depressão, discriminação, violência escolar, dificuldade de transferência do capital das experiências, Síndrome do Circuito Fechado da Memória, Síndrome do Pensamento Acelerado, culto a celebridades e padrão tirânico de beleza. Tais cárceres são evidências da crise do gerenciamento do EU.
Revista: Como lidar com a depressão pós-traumática? No caso de Santa Maria/RS, tivemos uma grande tragédia, envolvendo 242 jovens que morreram numa boate. Como lidar com a ansiedade da resposta da justiça e a depressão da perda?
Augusto Cury: A morte destes jovens foi profundamente dolorosa para todos nós. Esta tragédia abalou emocionalmente as famílias, Santa Maria, o Brasil e o mundo. Além de necessitar lidar com a própria dor, familiares necessitam também lidar, ou aprender recursos para tanto, com as dores de pessoas que lhes são próximas. É imprescindível desenvolver a capacidade de trabalhar os pensamentos e gerenciar emoções, desenvolver a resiliência, porque o não gerenciamento desdobra-se em ansiedade que, por sua vez, irá comprometer a capacidade de gerenciamento. É necessário trabalhar a consciência de que não podemos mudar a situação, mas podemos mudar como nos sentimos, e como vamos agir, diante da situação.
A Síndrome do Pensamento Acelerado provavelmente atinge mais de 80% dos indivíduos
Revista: Muitas pessoas recorrem ao álcool para aliviar a tensão e ansiedade. Como o senhor vê o alcoolismo neste caso?
Augusto Cury: Um dependente químico não se torna um encarcerado pela droga em si, mas pelo arquivamento das experiências que tem com ela. Com o passar do tempo, acaba ficando preso na masmorra construída dentro do seu Eu, tal masmorra é financiada pelas insuperáveis janelas killer, as experiências traumáticas, espalhadas por sua memória. Se o dependente for consciente dessas armadilhas da mente e puder gerenciar suas emoções e pensamentos poderá dar uma chance para si mesmo e reescrever as janelas que o enredaram.
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