quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O FILME DO INCONSCIENTE

O FILME DO INCONSCIENTE

 “Todos fecham seus olhos quando morrem, mas nem todos enxergam quando estão vivos”. Augusto Cury em O Futuro da Humanidade Vimos sobre a construção das janelas paralelas saudáveis fronteiriças às zonas de conflitos, agora precisamos entender que a gestão psíquica também passa por reeditar as zonas de conflitos. Todo cineasta filma centenas de horas e depois as reeditas para fazer um filme de longa-metragem de duas horas ou mais. A reedição do filme do inconsciente não é cortar cenas nem apagar imagens, mas inserir novos textos nos contextos, novas mensagens nas zonas de conflitos. Enfatizo que toda vez que se fizer necessário um tratamento psiquiátrico ou psicoterapêutico ele deverá ser feito sem culpa ou medo, infelizmente devido ao seu custo financeiro nem sempre seu tratamento é acessível. Em primeiro lugar após anos de experiência clínica estou convicto de que não é possível reeditarmos todos os traumas e conflitos que estão nas milhares de janelas killers ou zonas de conflitos do passado é mais fácil do que imaginamos construir essas zonas, basta saber que o arquivo de experiências é automático. Diariamente arquivamos milhares de experiências saudáveis e por vezes doentias, após o nascimento esse processo se acelera, o desconforto do berço, a fome não saciável na hora certa, as cólicas intestinais são fontes de estresses, em muitos casos não chegam a formam janelas killers como conflitos bloqueadores, mas são zonas de tensão que contém traumas. Junto com a carga genética a qualidade e a quantidade dessas zonas de tensão definirão as características de personalidade, grau de timidez, segurança, prazer, irritabilidade, criatividade. O córtex cerebral tem milhões de janelas com trilhões de experiências arquivadas desde a aurora da vida fetal. Não sabemos onde estão as janelas doentias nem quantas são só conseguimos detectar nosso sistema sensorial, comportamentos doentios, e ainda assim com limitações.  Em segundo lugar se não é possível reeditar todo filme do inconsciente, devemos pelo menos reeditar as zonas de conflitos que mais influenciam o adoecimento psíquico, as janelas killers que mais causam flutuação emocional, humor depressivo, angustias, fobias. Para isso devemos agir no foco da tensão no momento em que a janela killer está aberta, no epicentro da crise, portanto veja que esse processo é diferente da construção de janelas paralelas. No exato momento em que uma reação fóbica ou uma imagem mental destrutiva surgir a partir da zona de conflito aberta, o eu deve rapidamente agir, criticar, arguir, examinar enfim bombardear com inteligência essas zonas de conflitos com os mesmos questionamentos que produz na mesa redonda do eu. Desse modo a mesa redonda realizada fora da crise constroem janelas paralelas e na crise reedita a crise doentia, o mais importante nesse processo, é criar o que eu chamo de plataforma de janelas saudáveis. Essa plataforma deve ser suficientemente extensa, para nos darmos condições psíquicas e sociais para vivermos com dignidade. Conscientemente falando, o inconsciente é como se fosse uma complexa metrópole com inúmeros bairros, avenidas, praças, o inconsciente doente é como se fosse uma cidade com ruas esburacadas, mal iluminadas, com supermercados depredados, teatros vazios.  Aqui temos um grande ensinamento, uma pessoa que sofreu abusos sexuais, privações, perdas, violências sexuais, que foi vítima de guerras, ataques terroristas, não precisa reurbanizar toda cidade da sua psique para torna-la habitável, caso contrário a vida seria totalmente injusta com ela, provavelmente nunca seria livre de todas as suas zonas traumáticas, nunca exerceria o seu direito de ser feliz, livre, tranquila. Com a reurbanização de um bairro importante já é possível sobreviver, ainda que em alguns momentos ela frequente bairros doentios e tenha umas breves recaídas como humor triste, ansiedade, temores, ninguém precisa ser plenamente saudável em todas as áreas do seu inconsciente para ser alegre, lúcido, produtivo até porque não tem ninguém plenamente saudável, nem mais os ilustres psiquiatras. Notem que muitas pessoas são produtivas apesar de serem obsessivas, terem claustrofobia, serem inseguras, a grande cidade psíquica não é perfeita, mas podemos construir bairros agradabilíssimos. Um executivo deve construir um bairro agradabilíssimo no meio da sua vida agitada, deve investir nos seus sonhos, caso contrário viverá miseravelmente.


Quando caímos e entramos em bairros psíquicos depredados jamais devemos nos punir, desistir, ser controlado pela culpa e achar que o conflito retornou em sua plenitude. Por não conhecer o funcionamento da mente e o processo de formação de janelas paralelas além da reedição do inconsciente as recaídas, por exemplo, o uso de drogas, depressão, fobia social, ataques de pânico, tornam se um desastre para pacientes e geram desespero para alguns terapeutas. As recaídas poderiam ser encaradas como oportunidade preciosa para se reconstruir e não para se punir, para reeditar zonas de conflitos que nunca foram reurbanizadas, refiro-me as recaídas espontâneas ocorridas com pessoas empenhadas em serem gestoras da sua psique, agentes modificadores de sua história.

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