Atire a primeira pedra aquele que nunca cometeu qualquer falha nesta vida que não tenha lesado alguém querido. Levante a mão quem em algum momento de sua existência não cometeu qualquer ato sobre o qual tenha se arrependido amargamente. Pois é meu caro, somos humanos, acertamos e nos equivocamos continuamente, e não conheço qualquer outra forma de atingir o amadurecimento que não seja aprendendo com nossos próprios erros.
O lapidar de nossa identidade se dá exatamente dessa maneira, na arte de absorver de cada experiência algum ensinamento que nos torne aptos a algo mais. É justamente na colheita de nossas vivências que vamos gradualmente ampliando nossas ópticas e assim esboçando novas compreensões de velhos textos conhecidos. Como pode? Como seria possível visões anteriormente tão limitadas e hoje percepções tão diversas? As maiores consequências do amadurecimento se dão em forma de novas lentes de contato para a realidade. Só podemos enxergar o que vemos, e o que percebemos está diretamente ligado com as possibilidades de nosso alcance emocional.
Talvez essa introdução nos explique um pouco da importância do perdão. Este recurso psicológico sábio e fundamental, nos permite a elaboração das mais profundas dores, causadas tanto de nós para nós mesmos, como para alguém que exista ou mesmo tenha passado por nossas vidas. Sem essa possibilidade não conseguiríamos absorver a injustiça do chefe, a traição do marido, o esquecimento da melhor amiga daquela data tão importante, as malcriações que fizemos aos nossos queridos pais e tantas outras injustiças, mágoas, falhas que cometemos ou cometeram conosco.
A manutenção do sentimento negativo dentro de qualquer um de nós, só servirá para nos manter cada vez mais envenenados por um sentimento moribundo, que embora muitas vezes esquecido pelo tempo, conserva-se vivo entrevado em nosso foro íntimo, contaminando nossa percepção da vida e de tantas relações. Insistimos em relembrar histórias do passado carregadas de injustiças e dor, culpando-nos pelos erros ou remoendo o ódio por alguém que julgamos culpado.
A raiva mantida nos torna rancorosos e a ausência de elaboração poderá desencadear transtornos psíquicos e também deflagrar sintomas físicos no decorrer da vida, como patologias cardíacas e oncológicas. Quanto mais nos permitirmos acessar sentimentos que nos atordoam e compreendê-los para perdoarmos tanto a nós mesmos quanto quem nos tenha causado tamanho impacto e sofrimento, estaremos livres do peso dessa mágoa, para gozarmos de novas oportunidades relacionais sem sombras de traumas passados.
Contudo, por mais que queiramos acertar sempre, a verdade é que somos falhos. Ora cometeremos os mais imprudentes erros, ora faremos jus ao melhor espaço dos céus. Nutrindo o amargo gosto da culpa, por muitas vezes tendemos a julgar covardemente atos inconsequentes do passado, munidos da experiência da maturidade de agora. Nada disso! O passado não volta, e por isso, remoê-lo com sentimentos de raiva, arrependimento e culpa, apenas manterá aceso em nós aquilo que mais nos fere. Se pudermos exercitar o perdão tanto daquilo que fizemos e desaprovamos, como algo que nos foi direcionado e tenha nos magoado, poderemos no presente, paulatinamente, desvincular sentimentos destrutivos de nossa estrutura psíquica, nos libertando das amarras emocionais de traumas passados, favorecendo o desenvolvimento de relações mais leves e saudáveis.
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