Lígia Guerra
A definição do termo bode expiatório é: ‘Aquela
pessoa sobre quem se faz recair a culpa dos outros ou a quem se imputam
todos os reveses e desgraças’. Nas organizações é bastante comum
encontrarmos pessoas que costumam ser responsabilizadas por tudo que dá
errado, imaginemos um funcionário de nome João, ele carrega o estigma de
bode expiatório em uma determinada empresa, assim se um projeto não
decolou foi por que o João não fez a parte dele... Se o João participou
bastante e ainda assim o projeto não deu certo, é porque o João falou
demais na apresentação... Se uma fofoca rola no departamento é porque o
João abriu a boca antes do tempo sobre algum assunto.
Vale lembrar que ao longo da trajetória humana, nem
sempre foi o homem que carregou o estigma do bode expiatório, no
distrito ocidental da ilha de Timor quando as pessoas estão realizando
viagens muito longas e cansativas, elas costumam se abanar com ramos de
folhas, as quais depois serão lançadas fora em determinados lugares e
com isso acreditam que a fadiga seria transmitida às folhas e ficaria
para trás. Os animais também são utilizados com muita freqüência no
mundo ocidental, os gatos, especialmente aqueles de pelagem preta, são
sinônimos de má-sorte.
Parece ser bem mais fácil usar o nosso amigo João,
alguns objetos ou animais como depósitos de lixo emocional para mascarar
as deficiências de uma situação, de um povo ou de uma organização, ao
invés de enfrentar e resolver os conflitos existentes e comumente
maquiados pela cegueira coletiva. Isso me faz lembrar de uma história:
‘Conta-se que numa pequena cidade do interior, um grupo de pessoas se
divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado "de pouca
inteligência" que vivia de pequenos biscates e esmolas. Diariamente eles
chamavam o bobo ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre
duas moedas - uma grande de 400 réis e outra menor de dois mil réis. Ele
sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para
todos. Certo dia, um dos membros do grupo o chamou e lhe perguntou se
ele ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos. "Eu sei" -
respondeu o não tão tolo assim - “ela vale cinco vezes menos, mas no dia
que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha
moeda”.
Esse é exatamente o problema das empresas que têm a
política de cultivar o bode expiatório, os problemas não costumam ser
resolvidos, alguém que passa por bobo pode se adaptar ao papel por
necessidade e desperdiçar as próprias potencialidades, e o grupo que
costuma criticar um colega para aliviar as próprias ineficiências e
tensões pode afundar abraçado com um abobalhado sorriso coletivo. Então,
o que pode ser feito se você observar alguém ser usado como bode
expiatório ou se isso ocorrer com você? Para aqueles que isso ocorrer,
uma ONG britânica chamada Scapegoat Society recomenda seguir os
seguintes passos:
- Compreenda o que está ocorrendo não apenas superficialmente, mas de
uma forma profunda: Examine a história, os bastidores, o contexto e
situação.
- Questione o que o difamador tem como objetivo.
- Tente entender o que está ocorrendo entre ele e a vítima.
- Deixe claro que você ou o grupo identificou o processo e irá falar
abertamente sobre isso até que ele termine.
- Enfatize que você ou seus colegas não estarão disponíveis como alvos.
- Mantenha distância máxima possível do difamador.
- Estabeleça os fatos do que foi feito e por quem.
- Assegure que o difamador assuma a responsabilidade por tudo que ele
tenha creditado ao seu bode expiatório.
- Assegure que o difamador concorde em cessar suas ações contra seu bode
expiatório.
- Faça um acordo maleável para ambas as partes.
Por isso fique de olho, ninguém ganha em uma situação
assim, nem quem se acha esperto.
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