Lígia Guerra
Durante o mês de Julho, coincidentemente, recebi uma
enxurrada de pedidos de leitores para que eu escrevesse sobre os medos de cada
dia e sobre como se livrar deles. Como eu não acredito em coincidências, mas em
sinais que a vida concede, resolvi atender aos mais de 200 pedidos falando sobre
os mais variados medos: Medo de perder o emprego, da violência, da morte, de
falar em público, de perder a saúde, de micróbios, da traição, de ficar sozinho,
do futuro, de não encontrar um grande amor e até medo de ter mais medo.
Se olharmos a raiz de todos os nossos medos perceberemos que
ela é adubada pelo mesmo sentimento, a insegurança. Portanto, de nada adianta
atacarmos os nossos medos se não compreendermos profundamente como são
construídas as nossas inseguranças, aquelas que nos podam justamente quando
estamos prestes a germinar.
A insegurança é a antítese da coragem. A palavra coragem
deriva do latim ‘cor’ que significa coração. No idioma francês a palavra coragem
tem a mesma raiz que ‘coeur’, que também significa coração. Analogamente se
aplicarmos essa etimologia ao cotidiano, concluiremos que quando falta coragem,
está faltando coração nas nossas ações. Na infância costumamos colocar o nosso
coração em tudo, nas brincadeiras, nos banhos de chuva, nas gargalhadas, nos
sonhos e até nas lágrimas. Na medida em que crescemos aprendemos a filtrar as
nossas emoções e com isso passamos a usar muito mais a nossa mente do que o
nosso coração.
A mente grava os registros de tudo aquilo que vivemos de bom
e de ruim. O problema é que ela reforça as emoções que foram muito marcantes.
Assim, se você fez uma apresentação em público que foi catastrófica, cada vez
que for realizar uma nova apresentação a sua mente acionará justamente o
registro que deixou a marca mais forte, feito um texto em negrito.
Portanto, é preciso reprogramar a mente para que as inseguranças se dissipem e,
consequentemente, os medos. A mente é importante para aprendermos coisas novas,
armazenarmos informações e desenvolvermos raciocínios, mas ela tem um lado
negro. Ela vicia as nossas emoções e faz com que fiquemos congelados em alguns
traumas e experiências. Quando desejamos seguir em frente ela relembra fracassos
e devolve imagens de experiências negativas. Assim está estabelecido um ciclo
vicioso, o congelamento frente a nossa capacidade de nos reinventarmos.
A única forma de usarmos a nossa mente de forma sábia é não
esquecermos de ouvir a voz do nosso coração. Enquanto a mente se baseia no
passado e no futuro, o coração sente inspiração no agora. A mente se agarra aos
medos do passado e projeta os seus desejos no futuro, com isso perde-se o
presente e não é possível ouvir a voz do coração. Devido a isso temos
dificuldade em meditar, ficamos pulando do passado para o futuro feito macacos,
raramente estamos no presente. Quando congelamos a mente e nos concentramos no
coração, vivemos o momento presente, despertamos para a vida, passamos a existir
realmente.
A mente é o acúmulo de informações, o coração é a liberdade
de pensamento, o novo, o criativo. A mente é importante quando você está
preparando uma planilha ou organizando dados para um novo projeto. O coração é
fundamental para você colocar amor nas suas ideias e motivação nas suas ações. A
mente é útil no orçamento doméstico, mas não no relacionamento afetivo. Ela é
necessária no aprendizado do novo idioma, mas não é necessária na meditação. A
mente vicia as nossas atitudes, o coração as liberta.
Você já reparou que a maioria de nós se sente muito mais
jovem do que a idade que o corpo contabiliza? Sabe por quê? Porque os anos são
contados pela mente, mas as nossas vivências são contadas pelo nosso coração e
essas são muito mais marcantes que as horas.
Eu tive uma professora de artes que vivenciou uma história de
amor incomum, ela e o marido abandonaram a vida religiosa para casar. Um dia
perguntei para ela o que havia sido mais lindo no amor deles. De pronto ela
respondeu: A coragem que tivemos em assumir o sentimento, pois sem ela nós
JAMAIS teríamos vivido anos tão intensos e felizes. O medo era enorme, mas
seguimos em frente, resolvemos enfrentá-lo!!
O medo pode nos alertar para alguns perigos, mas apenas para
alguns. A maioria das nossas decisões precisa equilibrar a equação ‘mente x
coração’ para não ficarmos presos ao passado e nem adiarmos o que deve ser
feito. Aliás, não deixar para AMANHÃ as decisões de HOJE também elimina uma
grande parte das nossas inseguranças, pois viver com intensidade nos torna mais
fortes! Você pensa que amanhã será mais sábio ou culto do que hoje? Acredita que
no futuro tomará decisões melhores? Esqueça! No futuro você será a mesma pessoa,
apenas estará mais velho. A raiz dos seus medos será a mesma, ela somente estará
apoiada em outro lugar. Hoje o seu medo pode ser a perda do emprego, daqui a
pouquinho será o medo da doença, mas você será o mesmo medroso refletindo as
suas inseguranças em outros espelhos.
O escritor e poeta Fernando Pessoa escreveu: “Há um tempo
em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o
tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à
margem de nós mesmos.”
Escolha viver, pare de MALTRATAR AS HORAS feito um maluco que
vive mostrando o mesmo álbum de fotografias e contando as mesmas histórias
repetidas vezes. Olhe as fotos do passado, mas não esqueça de tirar novos
retratos e de contar novas histórias. Não seja cansativo, repetitivo e estéril.
Cresça, reinvente-se, nutra a sua mente com novos dados, imagens e lembranças.
Quando você se der conta perceberá que os medos ficaram no passado e que os
sonhos do futuro estão sendo vividos AGORA e com o coração.
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