é
um manual inteligente, provo cador e estimulante que reúne 99 máximas do gênio
alemão e sua aplicação prática a várias situações do dia a dia. A fi losofi a
de Nietzsche é de grande utilidade na busca de uma solução para uma série de
problemas, tanto na vida pessoal quanto na profi ssional.
Este breve curso de filosofia cotidiana foi
criado para nos auxiliar naqueles momentos em que precisamos tomar decisões,
recuperar o ânimo, encontrar o caminho certo quando estamos perdidos e
relativizar a importância dos fatos da vida. É indicado para pessoas que
procuram inspiração no pensamento do fi lóso-fo mais infl uente da era moderna
para combater as angústias e os medos dos dias de hoje.
Cada capítulo é iniciado por um aforismo desse
grande pensador, seguido de uma interpretação atual que nos ajuda a alcançar o
bem-estar.
No final, há
um anexo que explica o valor terapêutico da
filsofia e suas aplicações no cotidiano.
Conheceremos o trabalho dos fi lósofos terapeutas, popularizado pelo livro
Mais Platão, menos Prozac,
de Lou Marinoff, e e ntenderemos como máximas dos pensadores de todos os
tempos podem oferecer uma ajuda da melhor qualidade.
Antes de conhecer seus pensamentos, saiba um
pouco sobre a vida do grande mestre.
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 1844, na
cidade alemã de Röcken. Seu pai era pa stor evangélico e faleceu quando o fi
lho tinha 5 anos. O menino cresceu em um ambiente de pietis-mo protestante
dominado por mulheres.
Após frequentar um internato, onde foi
apresentado à Anti-guidade grega e romana, estudou fi losofi a clássica nas
universidades de Bonn e Leipzig. Nessa última, entrou em contato com as ideias
de Schopenhauer e com a música de Wagner, compositor que admirava e que mais
tarde conheceria pessoalmente.
Em 1869, com apenas 25 anos, Nietzsche já era
professor de fi lologia clássica na Universidade da Basileia. No entanto, sua
atividade docente foi interrompida em 1870, quanto estourou a Guerra
Franco-Prussiana.
Nietzsche
participou do confl ito como enfermeiro, até ser
Em 1881, conheceu Lou Andreas Salomé, mulher
por quem se apaixonou perdidamente mas que acabaria se casando com um amigo
seu. A rejeição ajudou a consolidar sua proverbial misoginia.
Obrigado a se aposentar prematuramente por
conta de se-quelas da doença, Nietzsche viveu na Riviera francesa e no norte da
Itália, lugares que considerava ideais para pensar e escrever.
Sozinho e frustrado por suas obras não
alcançarem a acolhida desejada, foi vítima de seus primeiros acessos de loucura
em 1889, quando morava em Turim e estava praticamente cego.
Após longas temporadas internado em clínicas da
Basileia e de Jena, Nietzsche passaria o fi m da vida na casa da mãe, que cui-dou
dele até morrer, deixando-o ao encargo da irmã. Nietzsche faleceu em 1900.
Seu ambicioso legado filosófico até hoje não
perdeu o poder inspirador e instigante.
Quem tem uma razão de viver é capaz de suportar
qualquer coisa
nossos
objetivos fundamentais, somos dominados pelo estresse e pela desorientação. A
sensação de “trabalhar muito para nada” e o esgotamento que difi culta a
concentração podem ser combatidos com a defi nição de uma meta clara, que
ofereça sentido ao que estamos fazendo nos bons e nos maus momentos.
Para o psicólogo Viktor Frankl, se o indivíduo
encontra um sentido para sua vida, é capaz de superar a maior parte das
ad-versidades. A logoterapia, criada por ele, busca exatamente isto: em vez de
escavar o passado do paciente, tenta explorar o que é possível fazer com o que
ele tem aqui e agora. Em outras palavras, devemos encontrar um motivo para nos
levantar da cama todas as manhãs.
O problema de muitas pessoas insatisfeitas com
sua existência é que elas não pensam na vida que gostariam de viver. E a
primeira condição para encontrar-se é saber aonde se quer chegar.
Como fez Frankl meio século mais tarde,
Nietzsche destaca a importância de se buscar uma “razão de viver”. Quando nossa
vida se torna plena de sentido, de uma hora para outra os esforços já não são
cansativos, e sim passos necessários em direção à meta que estabelecemos.
O destino dos seres humanos é
feito de momentos felizes e não de épocas felizes A FELICIDADE É FRÁGIL
E VOLÁTIL, pois só é possível senti-la em certos momentos. Na verdade, se
pudéssemos vivenciá-la de forma ininterrupta, ela perderia o valor, uma vez que
só percebemos que somos felizes por comparação.
Após uma semana de céu nublado, um dia de sol
nos parece um milagre da Criação. Do mesmo modo, a alegria aparenta ser mais
intensa quando atravessamos um período de tristeza. Os dois sentimentos se
complementam, pois, da mesma forma que a melancolia não é eterna, não
poderíamos suportar 100 anos de felicidade.
Imaginar que temos obrigação de ser felizes o
tempo todo e em todo lugar é um grande fator de estresse na sociedade moderna.
A negação da tristeza dispara o consumo de antidepressivos e a busca de
psicoterapias e nos leva a adquirir coisas de que não precisamos. Não exibir um
sorriso permanente parece ser motivo de vergonha.
Contra essa perspectiva falsa e infantil,
Nietzsche nos lembra que a felicidade vem em lampejos e que tentar fazer com
que ela dure para sempre é aniquilar esses lampejos que nos ajudam a seguir em
frente no longo e tortuoso caminho da vida.
NÓS, SERES
HUMANOS DO SÉCULO XXI,
estamos
“desnaturalizados” e isso muitas vezes nos faz parecer extraterrestres em nosso
pró-
prio
planeta. Mesmo acreditando que a cultura e a civilização tenham suprido nossa
porção mais animal e instintiva, ainda precisamos manter contato com o mundo
natural.
Para tratar quadros de ansiedade que nascem do
excesso de trabalho e de uma longa permanência na selva de pedra, escapa-das de
dois ou três dias para a natureza podem ser mais efi cientes do que a ingestão
de medicamentos.
Ao sentir o cheiro de terra fresca, o ar limpo
e o silêncio, que só é quebrado pelas pequenas criaturas ao redor,
reencontramos nossa essência por tanto tempo abandonada.
Como diz Nietzsche, na cidade precisamos
representar um papel porque estamos muito preocupados com o que pensam de nós.
Mas, ao voltar à natureza, podemos nos dar ao luxo de sermos nós mesmos. Não
precisamos nos vestir bem, falar ou atuar de maneira especial. Basta nos
deixarmos levar pelo mundo natural em direção ao nosso interior, onde um
manancial de tranquilidade nos espera.
NIETZSCHE
SUGERE QUE NÃO HÁ
apenas
uma morte ao longo da existência humana. No decorrer da vida, vamos vencendo
etapas e devemos morrer
–
simbolicamente – para podermos nascer no estágio seguinte.
Essa transição de uma vida a outra é o que as
tribos mais ligadas à terra chamam de “rito de passagem”, um momento que nossa
civilização vem abandonando.
O antropólogo catalão J. M. Fericgla comenta o
assunto: Sem entrar no mérito da religião, a primeira comunhão era
tra-dicionalmente um rito de iniciação: uma porta simbólica que conduzia da
infância à puberdade. Os meninos g anhavam suas primeiras calças compridas após
a cerimônia, transformando-
-se
em homenzinhos. Isso coincidia com a permissão para sair à rua sozinhos, mesmo
que apenas para comprar pão. O padri-nho costumava abrir uma conta-corrente no
nome do afi lhado.
Também no momento da primeira comunhão os
meninos ganhavam seu primeiro relógio, o que signifi cava um
Um bom exercício para tomar consciência das
vidas que existem dentro de nossa vida é fazer uma relação das etapas que já
superamos e verifi car se houve algum rito de passagem entre uma e outra.
Depois podemos perguntar a nós mesmos: “Qual é a próxima vida em que quero
nascer?”
O valor que damos ao infortúnio é tão grande
que, se dizemos a alguém “Como você é feliz!”, em geral somos contestados
NÃO É
LUGAR-COMUM DIZER
que
os povos aparentemente mais primitivos demonstram ser mais felizes que a
sociedade ocidental contemporânea. Muitos se perguntam como pessoas que não têm
nada ou quase nada podem ser mais bem-humoradas do que outras que trabalham
para acumular todo tipo de bens.
Será que a contestação, como diz Nietzsche, é
uma marca de nossa civilização?
Nas conversas típicas do ambiente de trabalho,
nos bares e nos restaurantes as queixas são intermináveis: reclamamos das taxas
de juros, do custo de vida, do ruído e da poluição que asso-lam as grandes
cidades. Talvez não estejamos fazendo nada para remediar esses fatores, mas
gostamos de
O estresse não nasce das circunstâncias
externas, mas da interpretação que fazemos delas. Talvez o segredo da
felicidade seja deixar de nos preocuparmos com fatores e estatísticas que não
dependem de nós e nos divertirmos mais.
Nosso tesouro está na colmeia de nosso
conhecimento. Estamos sempre voltados a essa direção, pois somos insetos alados
da natureza, coletores do mel da mente COMO SCHOPENHAUER, NIETZSCHE em
sua juventude se interessou pelas várias fi losofi as que fl orescem na Índia.
Herdeiro de uma longa tradição espiritual
voltada ao conhecimento pessoal, Ramana Maharshi talvez tenha sido o último
“grande
guru” a trabalhar com o instrumento que nos torna humanos: a mente.
Ramana estimulava seus discípulos a perguntarem
a si mesmos: “Quem sou eu?” Quando soube que tinha câncer, tranquili-zou-os
dizendo: “Não vou a lugar nenhum. Para onde poderia ir?” Aqui Nietzsche compara
a conquista da mente a uma abe-lha voando em direção à colmeia para colher o
mel mais puro.
Assim como o pescador de pérolas prende uma
pedra na cintura e desce ao fundo do mar para buscá-las, cada um de nós deve se
munir de desapego, mergulhar dentro de si mesmo e encontrar sua pérola.
Para encontrar essa pérola não é preciso
peregrinar à Índia nem se entregar a complexos exercícios espirituais. Basta
olhar-mos tranquilamente para o nosso interior.
A palavra mais ofensiva e a carta mais
grosseira são melhores e mais educadas que o silêncio
A MAIOR
PARTE DAS GUERRAS PSICOLÓGICAS
é iniciada
mais pelo que não se diz do que pelo que se diz.
Vamos
imaginar uma cena: A está chateado com B e parou de falar com B
desde que este se esqueceu de lhe dar os parabéns pelo aniversário. A deveria
ter dito: “Você não sabe que dia foi ontem?”, mas, como fi cou magoado com a
falta de atenção do amigo
–
que, na realidade, foi apenas um esquecimento –, resolveu pagar na mesma moeda:
o silêncio. B acabou se chateando com A, que de uma hora para outra
deixou de atender seus
São comportamentos infantis, porém muito mais
comuns do que se imagina. Quantos casais brigam por mal-entendidos que duram
dias ou meses até serem esclarecidos? A falta de comunicação também está na
origem de muitos confl itos vividos no ambiente de trabalho.
Não dizer as coisas a tempo é um importante
fator de estresse no mundo tumultuado em que vivemos, pois possibilita
interpretações equivocadas que acabam pesando contra nós.
Nietzsche, que não tinha papas na língua, afi
rma que é melhor expressar nossos sentimentos – mesmo sem encontrar as palavras
adequadas – do que ofender com o silêncio.
Nossa honra não é construída por nossa origem,
mas por nosso fim
COMO JÁ
DISSEMOS, AS PESSOAS
mais felizes e realizadas são as que sabem
aonde querem chegar e têm metas. Podemos alcançar nossos objetivos de forma
mais ou menos efi caz, mas o fato de termos vivido em função de algo acrescenta
um valor inestimável à nossa
Quando enxergamos a vida dessa maneira, nossa
origem humilde e os erros que porventura tenhamos cometido no caminho perdem a
importância. Como diz o Corão: “A Deus não importa o que você foi, mas o que
será a partir deste momento.” Para ver com clareza e atuar de forma coerente,
precisamos de algo parecido com um roteiro pessoal. Experimente o seguinte
exercício:
1.
Pegue uma folha de papel e trace nela uma linha
vertical.
2.
Escreva à esquerda um resumo
do que foi sua vida até hoje.
3. À
direita, descreva o caminho que gostaria que ela tomasse a partir deste
momento.
4.
Logo abaixo, anote os passos
necessários para seguir em frente com seu roteiro.
E mãos à
obra!
O homem que
imagina ser completamente bom é um idiota
SE A
CONSCIÊNCIA NOS TORNA HUMANOS,
a imperfeição
também é um
traço distintivo de
nossa
Assumir essa característica da nossa condição
nos ajuda a ser humildes e, o que é mais importante, nos faz tomar consciência
de quanto ainda precisamos nos aprimorar. Todo fracasso ou erro nos ensina como
fazer melhor.
As pessoas mais infl exíveis e perfeccionistas
sofrem as consequências de seus atos imperfeitos. Se algo dá errado, costumam
colocar a culpa nos outros e fi cam descontrolada quando alguém mostra qualquer
falha que possam ter cometido.
Nietzsche nos dá o seguinte conselho: é inútil
querermos ser bons o tempo todo e fazer tudo certo – o que importa é estarmos
dispostos a fazer um pouco melhor hoje do que fizemos ontem.
A palavra japonesa wabi-sabi defi ne a
arte da imperfeição: no que é incompleto, irregular e antigo existem vida e
beleza, pois aí está contido o desejo que a natureza tem de aprimorar a si
mesma.
As pessoas que nos fazem confidências se acham
automaticamente no direito de ouvir as nossas
OS
JORNALISTAS SABEM QUE
Às vezes encontramos pessoas que rompem
imediatamente o protocolo e nos transformam em parte integrante de suas vidas.
Mas o que pode ser entendido como um ato de confi ança também envolve riscos:
quando nos transformam em seus confi dentes, esses indivíduos nos incluem em
seu círculo íntimo e nos obrigam a acompanhar sua evolução pessoal. Dito de
outra forma: nós nos transformamos em espectadores forçados de um mundo pessoal
que até então desconhecíamos.
Além da pressão gerada por ouvir confi dências,
há o perigo do qual nos previne Nietzsche: o outro pode estar esperando de nós
uma atitude de confi ança semelhante para, assim, completar o círculo iniciado
por ele.
Por tudo
isso, é importante sermos cuidadosos ao escutar
–
reservando o entusiasmo para as pessoas mais íntimas – e ainda mais cuidadosos
ao falar.
Precisamos
amar a nós mesmos para sermos capazes de nos tolerar e não levar uma vida
errante
AQUI ESTÃO
CINCO PASSOS
Para
aumentar a autoestima: 1. Viva para si mesmo, não para
o mundo. As
pessoas que não sabem amar a si mesmas buscam constantemente a aprovação
alheia e sofrem quando são rejeitadas. Para quebrar essa dinâmica, devemos
admitir que não podemos satisfazer a todos.
2.
Fuja das comparações. Elas são uma importante causa de infelicidade.
Muita gente tem qualidades e atributos que você não tem, mas você também possui
virtudes que não estão presentes nos outros. Pare de olhar para os lados e
trabalhe na construção de seu próprio destino.
3
. Não busque a perfeição. Nem nos outros nem em si mesmo, já que a
perfeição não existe. O que existe é uma grande margem para melhorar.
4.
Perdoe seus erros. Especialmente os do passado, pois já não podem ser
contornados nem têm qualquer utilidade.
Aprenda com
eles, para não repeti-los.
5.
Pare de analisar. Em vez de fi car pensando no que deu errado, é muito
melhor agir, porque isso permite aperfei-
çoar
suas qualidades. Movimentar-se é sinal de vida e de evolução.
Só quem
constrói o futuro tem o direito de julgar o passado
o futuro
está muito ocupado para julgar o passado.
Desde pequenos, quando recebemos notas na
escola, nos acostumamos com avaliações e julgamentos. Ao julgarmos o passado –
de uma época ou de uma pessoa –, sentimos a falsa segurança de ter fechado uma
porta.
Ao mesmo tempo, todo julgamento esconde o
orgulho de quem se considera dono da verdade. Também revela grande insegurança.
De sua posição inatingível, aquele que julga se comporta como soberano e
crítico das ações alheias.
Como a vida é um caminho para a frente, é muito
mais produtivo construir o que vai acontecer do que analisar o que já passou,
como nos diz Nietzsche. Além disso, as pessoas que agem estão livres de
preocupações, que normalmente ocupam a cabeça das que não se movem.
Podemos observar o mundo de duas maneiras:
virando a ca-beça para trás ou prestando atenção no que temos à nossa frente.
E você? Que
caminho prefere?
Alegrando-se por nossa alegria, sofrendo por
nosso sofrimento – assim se faz um amigo
que
não é difícil encontrar pessoas dispostas a se compadecer de nossas provações,
mas são raras aquelas que se alegram sinceramente com nossos triunfos. Um amigo
assim, segundo o autor de O retrato de Dorian Gray, deve ter uma
natureza muito pura.
Por que é tão difícil compartilhar os êxitos?
Provavelmente porque, nesses momentos, a comparação é inevitável. Em vez de
festejar a boa notícia, o interlocutor pergunta a si mesmo: “Por que não eu?”
Os verdadeiros amigos assinam um pacto de
nobreza em re-lação a todos os aspectos do destino humano.
Sobre
isso, Voltaire, que viveu um século antes de Nietzsche, afi rmou:
A amizade é um contrato tácito entre duas
pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis porque um monge ou um solitário podem
ser pessoas de bem e mesmo assim não conhecer a amizade. E virtuosas porque os
malvados só têm cúmplices; os festeiros, companheiros de farra; os ambiciosos,
sócios; os políticos reúnem os partidários ao seu redor; os vagabundos têm
contatos; e os príncipes, cortesãos – mas só as pessoas virtuosas têm amigos.
Não devemos ter mais inimigos
que as pessoas dignas de ódio, mas tampouco devemos ter inimigos dignos de
desprezo. É importante nos orgulharmos de nossos inimigos
DIZEM QUE
PASSAMOS
metade da vida resolvendo problemas. Isso é
perfeitamente humano. A questão é saber se eles merecem a atenção que lhes
dedicamos.
Utilizando a linguagem cinematográfi ca, alguns
problemas são grandes estreias, outros são fi lmes clássicos – que às vezes
voltam a entrar em cartaz porque ainda não foram resolvidos – e, por fi m,
existem os fi lmes B, que são a maioria.
A arte
de viver consiste em reservar nossas forças para os primeiros. Como nos
advertiu Buda há dois milênios e meio:
“Quem
não sabe julgar o que merece crédito e o que merece ser esquecido presta
atenção ao que não tem importância e se esquece do essencial.”
Para saber de que tipo são nossos problemas –
nossos principais inimigos –, o psicólogo californiano Richard Carlson
recomenda que façamos a nós mesmos a seguinte pergunta: “Isso vai ter alguma
importância daqui a um ano?” Se a resposta for positiva, é preciso cuidar da
questão
O sucesso
sempre foi um grande mentiroso
MUITAS
PESSOAS BEM-SUCEDIDAS
costumam
dizer que o êxito é um presente envenenado, já que coloca o privilegiado em
posição de semideus, achando que estará sempre por cima. Quando a sorte deixa
de sorrir para essa pessoa, de uma hora para outra seu mundo vira de cabeça
para baixo.
Isso explica por que nas classes sociais mais
altas acontecem tantas separações, tantos investimentos arriscados e problemas
com entorpecentes – o ego é a droga mais pesada. O fracasso, por sua vez,
sempre nos deixa ensinamentos que nos ajudam a melhorar. Vejamos alguns deles:
•Favorece a humildade e
nos ajuda a manter os pés no chão.
•
Estimula nossa imaginação e
nos leva a explorar novas alternativas.
•Faz
de nós pessoas mais refl exivas, evitando decisões pre-cipitadas.
• É um convite
para recomeçar, compreendendo melhor o
• Coloca
nossa fortaleza à prova e é um aprendizado essencial para aqueles que se
dispõem a alcançar algo.
•Abre
novas oportunidades que podem levar ao verdadeiro sucesso, que não
conheceríamos se tudo tivesse dado certo de primeira.
O homem é algo a ser superado. Ele é uma ponte,
não um objetivo final
NUMA
ENTREVISTA CONCEDIDA
no
auge da fama, o músico e ator David Bowie afi rmou: “Eu sempre quis ser algo
mais que humano.”
Talvez por isso tenha protagonizado o filme O
homem que caiu na Terra , que conta a história de um alienígena chamado
Newton que vem em busca de uma salvação para a seca que amea ça seu planeta. No
intuito de construir uma nave que o leve de volta ao seu mundo, vende artigos
de tecnologia avançada e fica milionário.
Esse argumento psicodélico revela uma questão
bastante humana: nós nos sentimos parte deste mundo e ao mesmo tempo fora dele.
Isso explica por que tanta gente acredita em anjos e fenômenos paranormais em
geral.
Nietzsche destaca essa semente
divina que vive no espírito humano. Nenhuma outra espécie foi capaz de voar aos
céus e, ao mesmo tempo, rastrear as profundezas marinhas. Se conseguimos tudo
isso utilizando apenas a décima parte de nosso cérebro, como afi rmam alguns
cientistas, aonde seríamos capazes de chegar?
Pense
nisso quando estiver se escondendo atrás de suas supostas limitações.
Falar muito
de si mesmo pode ser uma forma de se ocultar
AQUI ESTÃO
CINCO MANEIRAS
de
aumentar a autoconfi ança: 1. Faça com que seus atos falem por você. Quem
precisa expressar constantemente o próprio valor transmite insegurança.
É melhor construir em silêncio.
2.
Reconheça seus pontos fortes. Identifi
que as virtudes das quais você tem consciência, bem como as que já o
destaca-ram de outras pessoas, e pense em como aproveitá-las em benefício
próprio e dos demais.
3.
Neutralize os elementos que
podem boicotá-lo. Algumas atitudes freiam
nosso progresso, da mesma forma que relacionamentos negativos minam nossa
autoestima.
4.
Aproveite as oportunidades. No trabalho ou no seu círculo social, veja
cada nova situação como uma oportunidade para aprender. Essa atitude reforçará
sua autoconfi ança e sua autoestima.
5
. Pratique exercícios físicos. A autoconfi ança também aumenta quando
usufruímos de um corpo saudável para enfrentar a vida. Fazer exercícios com
regularidade aumenta a energia e libera endorfi na, o hormônio da felicidade.
As pessoas nos castigam por nossas virtudes. Só
perdoam sinceramente nossos erros
O CONTRÁRIO
DO AMOR
não
é o ódio, mas a indiferença. Quem parece nos detestar nutre, no fundo, uma
admiração oculta por nós. A inveja funciona da mesma forma. A fúria do invejoso
sempre se direciona para um êxito.
Schopenhauer, fi lósofo que inspirou Nietzsche,
afi rmou o seguinte a esse respeito: “A inveja dos homens mostra quão infelizes
eles se sentem e a atenção constante que dão ao que fazem os demais mostra como
sua vida é tediosa.” Isso não quer dizer que não devemos tomar cuidado com os
invejosos, que, cegos pela paixão negativa que os move,
– ninguém reconhece essa
disfunção emocional –, o mais sensato é evitar envolver o invejoso em nossos
planos, pois sua tendência inconsciente será tentar nos boicotar.
Quando falamos sobre um projeto promissor a uma
pessoa dessas, ela logo trata de apontar as falhas para nos desanimar, para que
não sigamos adiante. Por esse mesmo motivo, convém ocultar nossos êxitos sempre
que possível. Dessa forma pou-pamos sofrimento e evitamos a carga emocional
negativa que poderia nos atingir.
O reino dos céus é uma condição do coração e
não algo que cai na terra ou que surge depois da morte
UMA HISTÓRIA
DA TRADIÇÃO ZEN
conta que um guerreiro samurai foi ver o mestre
Hakuin e perguntou:
–
O inferno existe? E o céu? Onde estão as portas que levam a um e a outro? Por
onde posso entrar?
– Quem é
você? – perguntou Hakuin.
– Sou um
samurai – respondeu o guerreiro –, um chefe de
Hakuin
sorriu e respondeu:
– Samurai?
Você parece um mendigo.
Com o
orgulho ferido, o samurai desembainhou sua espada.
Estava a
ponto de matar Hakuin quando este lhe disse:
– Esta é a
porta do inferno.
Imediatamente,
o samurai entendeu. Ao guardar a espada na bainha, Hakuin disse:
– E esta é a
porta do céu.
O homem é,
antes de tudo, um animal que julga
CADA OPINIÃO
QUE MANIFESTAMOS
– para não falar dos preconceitos – é um fi
ltro que colocamos entre nós e a realidade. Os budistas praticam a meditação
para limpar a mente e a visão que têm da vida. Eis um exercício clássico de
iniciação: 1. Sente-se sobre uma almofada grande e fi rme, com a colu-na ereta,
se possível em posição de lótus ou meio lótus. As pessoas com problemas de fl
exibilidade podem usar uma cadeira com espaldar reto.
2.
Deixe cair as pálpebras – mas
não feche totalmente os olhos – e coloque as mãos no colo, de forma que os
po-legares se toquem, ou então pouse as palmas das mãos suavemente sobre os
joelhos.
3.
Concentre sua atenção nas
narinas, por onde o ar deve entrar e sair bem lentamente. Se achar difícil,
conte o núme-ro de inspirações até chegar a 100. Se perder a conta, volte ao
começo. Quando for capaz de meditar por 15 minutos sem perder a concentração,
não precisará mais contar.
4.
O objetivo da meditação é
esvaziar a mente. Sempre que aparecer um pensamento, imagine que se trata de
uma nuvem na qual você põe uma etiqueta com a palavra “pensamento” e deixa
passar sem fazer julgamentos. Os pensamentos não são bons nem maus: são nuvens
que passam.
A melhor
arma contra o inimigo é outro inimigo
UMA GUERRA
NÃO É TRAVADA
apenas
nos campos de batalha tra-dicionais, em que tropas tentam aniquilar umas às
outras. Graças à gana de poder de que falava Nietzsche, a luta acontece em
qualquer área em que os seres humanos disputem infl uência.
Existem
disputas pelo poder em qualquer grupo de trabalho
Nós, seres humanos, somos animais territoriais
e estamos o tempo todo tentando aumentar nossos domínios, inclusive o
emocional.
Como nem sempre encontramos um inimigo para
opor ao inimigo que está nos assediando, às vezes precisamos recorrer a outras
estratégias. O tratado mais antigo para qualquer tipo de luta nesses casos é A
arte da guerra, de Sun Tzu, que chega à seguinte conclusão:
Se conhecer seu inimigo e a si mesmo, ainda que
você enfrente 100 batalhas, nunca sairá derrotado. Se não conhecer seu inimigo
mas conhecer a si mesmo, suas chances de perder ou ganhar serão as mesmas. Se
não conhecer o inimigo nem a si mesmo, pode ter certeza de que perderá todas as
batalhas.
Os maiores êxitos não são os que fazem mais
ruído e sim nossas horas mais silenciosas
COMO DIZ UM
DOS POEMAS
mais
célebres do taoísmo, no silêncio e no vazio todas as coisas estão presentes em
potencial. A mente é como um copo: antes de enchê-la, devemos esvaziá-la. Do
vazio e do
Uma
das histórias da tradição taoísta fala da difi culdade que temos em viver além
do ruído das palavras.
Num templo distante, erguido nas montanhas do Japão,
quatro monges decidiram fazer um retiro que exigia silêncio absoluto. O frio
era intenso e, quando uma onda de ar gelado entrou no templo, o monge mais
jovem disse:
– A vela se
apagou!
– Por que você está falando? –
repreendeu o monge mais ido-so. – Estamos fazendo uma cura pelo silêncio!
–
Não entendo por que vocês estão falando em vez de ca-larem a boca, como foi
combinado! – gritou o terceiro monge, indignado.
–
Eu sou o único que não disse nada! – declarou, satisfeito, o quarto monge.
O indivíduo sempre
lutou para não ser absorvido por sua tribo. Se fi zer isso, você se verá
sozinho com frequência e,
às vezes, assustado. Mas o privilégio de ser
você mesmo não tem preço
devem
estar sempre dispostos a percorrer sozinhos boa parte do caminho. Na vida,
existem momentos para se andar em grupo – na escola ou na universidade, entre
amigos, com seu parceiro – e momentos em que o indivíduo precisa ser capaz de
tomar o próprio rumo no bosque das decisões.
Quando passamos sozinhos por um trecho crucial,
sentimos medo, pois temos que carregar toda a responsabilidade pelos nossos
atos. Não há ninguém por perto a quem possamos culpar se algo der errado. E, no
entanto, também nos sentimos cheios de coragem.
Alguns viajantes comentam a sensação de força
que experimenta aquele que se separa do grupo. Enquanto está com os demais, sua
vontade se dilui. Mas, quando toma as próprias decisões, em silêncio, ele se
sente senhor do seu destino. De repente, percebe que está extraordinariamente
atento ao que acontece ao redor.
Em algum momento você terá medo, mas a
consciência de sua própria força será compensadora. Como dizia Nietzsche: “Ser
independente é para poucos. É um privilégio dos fortes.”
Quem é ativo
aprende sozinho
passou
longos períodos de solidão e isolamento. Mas ninguém precisa se transformar em
ermitão nem se aproximar dos abismos da loucura, como fez o pensador no fi nal
da vida: um breve retiro de vez em quando pode ser o su-fi ciente para
assimilar o que foi vivido e preparar novos projetos.
Esvaziar o
copo para voltar a enchê-lo.
O poeta espanhol Antonio Machado disse: “Quem
fala sozinho espera falar com Deus um dia.” Certamente é em períodos de
desconexão como esses que nos voltamos para nosso interior e somos capazes de
guiar nossa sorte.
Além dos benefícios psicológicos, a medicina
menciona as seguintes vantagens orgânicas de um período de solidão: 1. Redução
da pressão arterial.
2. Diminuição
do ritmo dos batimentos cardíacos e da respiração.
3.
Neutralização do estresse.
4.
Fortalecimento do sistema imunológico.
5.
Recuperação do ânimo.
7.
Melhora das tensões
musculares. Nossas opiniões são a pele
na qual
queremos ser vistos
NOSSOS
JULGAMENTOS
dizem
mais sobre nós mesmos do que sobre aqueles que julgamos. Cada opinião é uma
gota no vasto ocea no do caos e por isso podemos dizer que o homem mais sábio é
aquele capaz de passar pelo mundo sem emitir qualquer juízo.
O diretor de cinema japonês Akira Kurosawa
lançou, em 1950, a obra-prima Rashomon, sobre o caráter volúvel e
capri-choso das opiniões, que demonstra que cada um só enxerga o que quer.
O fi lme trata do estupro de uma mulher e
do aparente assas-sinato de seu marido. Cada uma das testemunhas do crime – que
incluem o bandido e o marido morto, representado por um mé-
dium – oferece uma versão
completamente diferente dos fatos. A conclusão é que não podemos conhecer a
verdade.
Da mesma forma que as
testemunhas contam a verdade que mais lhes convém, nossa opinião sempre nos
denuncia. Ao partilhar um ponto de vista sobre qualquer assunto, revelamos
nossas motivações e nossos desejos mais íntimos.
Não há razão para buscar o sofrimento,
mas, se ele surgir em sua vida, não tenha medo: encare-o de frente e com a
cabeça erguida
EM UM DE
SEUS AFORISMOS
mais
célebres, Buda disse que “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”. Do
nascimento à morte, a vida está repleta de dor, mas o sentido que damos a essa
dor só depende de nós. Se a encararmos de forma trágica, ela se transformará em
sofrimento.
Uma coisa é o que acontece no exterior e outra
é o que se dá no interior de cada indivíduo.
Aquele que tem medo de enfrentar a dor a
receberá sempre como uma maldição. Ele nunca saberá o que fazer com a escuri-dão
que toma conta de sua vida, que antes parecia tão feliz.
O fi lósofo lida com a dor e tenta extrair dela
um benefício em forma de conhecimento. Mesmo os momentos mais duros da
vida, como quando sofremos uma terrível perda,
são portas abertas em direção a algo que precisávamos conhecer. Se es-tivermos
conscientes de que todo fi m é ao mesmo tempo um começo, a dor e o possível
sofrimento serão para nós uma escola que nos permitirá entender mais
profundamente o que signifi ca ser humano.
A razão começa
na cozinha
DA MESMA
FORMA
que
a gastronomia de uma região defi ne seus valores e sua visão de mundo, o que
acontece na ofi cina do estô-
mago
– como dizia Cervantes – revela nosso momento espiritual.
O documentário de Doris Dörrie How to Cook
Your Life (Como cozinhar sua vida) discute questões essenciais sobre a
alimentação e sua importância em nosso modo de viver. O fi lme está centrado no
cozinheiro zen Edward Brown, que conta aos discípulos o segredo de sua arte: na
verdade, são os alimentos que nos cozinham.
Ele vê no ato de cozinhar – de fazer pão a
escolher e picar hortaliças – uma demonstração de amor por si mesmo e pelos
outros. Que atividade humana tem maior transcendência que a preparação do
combustível para nosso
Mal comparando, se pusermos o combustível
errado em um automóvel, ele acabará apresentando algum defeito. Assim, o
momento de comer não deveria ser um ato rotineiro, sem importância. Quando
preparamos nossos alimentos, estamos fazendo uma escolha transcendente para a
saúde e o espírito.
O futuro
infl ui no presente da
mesma
maneira que o passado
O PRESENTE É
um
estado tão difícil de ser alcançado que a afi r-mação de Nietzsche não deveria
nos chocar se analisássemos bem o que ele está dizendo. Ninguém duvida de que o
passado tem in-fl uência no que somos, pois, juntamente com nossa herança
ge-nética, constituímos o produto de nosso caminhar pelo mundo.
No entanto, o futuro também nos molda, pois,
tendo o passado nas costas, construímos o dia a dia de acordo com os objetivos
que estabelecemos para nós mesmos. O ideal seria fazer com que o futuro não
esteja muito distante de nossos atos – pois isso nos levaria ao terreno da
eterna fantasia – e cuidar para que o passado não seja uma carga
Viver no passado às
vezes pode se transformar em uma doen-
ça, que
apresenta dois sintomas mais evidentes:
•Melancolia
recorrente. A evocação de bons momentos do passado
pode ser uma fonte de prazer, mas, quando se torna um hábito, acabamos nos
privando do presente, que deveria ser a fonte de nossas lembranças futuras.
•Rancor.
Manter abertas as feridas do passado impede que
elas cicatrizem e não nos permite desfrutar o que acontece aqui e agora.
Além disso, o tempo tende a deformar o acontecido e, às vezes, um episódio
insignifi cante pode ganhar falsa importância.
Não deveríamos tentar deter a pedra que já
começou a rolar morro abaixo;
o melhor é
dar-lhe impulso
EIS UM
PENSAMENTO
taoísta:
em vez de se opor a uma força contrária – o que acabaria dobrando a potência do
impacto –, as leis do Universo aconselham a se unir a ela e usá-la para os
Muitas artes marciais utilizam o mesmo
princípio: direcionar a força existente é muito mais efetivo que se opor a ela.
Por isso, o lutador de judô acolhe o golpe do oponente e canaliza a energia
dele em benefício próprio.
Aplicando essa sabedoria ao nosso cotidiano, já
que uma das fi nalidades deste livro é neutralizar o estresse, uma medida muito
útil é evitar – a menos que seja impossível – tudo o que implique problemas com
o que nos cerca, como por exemplo:
•Discutir quando os
nervos estão à fl or da pele.
•Tentar
modifi car a opinião de uma pessoa que esteja
abso-lutamente resoluta.
• Enviar
um e-mail cinco minutos após ter se desentendido com alguém (é preciso deixar
que se passem pelo menos 24 horas).
• Querer
ganhar a amizade de quem já demonstrou que não gosta de você.
A maneira
mais efi caz de corromper o jovem é ensiná-lo a
pensam de
forma diferente
A EXISTÊNCIA
DE
um
grande número de seitas, times de futebol e partidos políticos revela que o ser
humano se sente confortável dentro de uma comunidade em que a linha de
pensamento é estabelecida de antemão.
Pensar é um trabalho árduo. Não é à toa que não
é ensinado nos colégios e a fi losofi a tem peso quase insignifi cante no
currí-
culo
escolar.
A consequência lógica de não pensar é seguir
sempre os outros, abrindo mão da capacidade de tomar decisões e traçar o
próprio destino.
Além disso, reduzir nossa mentalidade a uma
única perspectiva faz com que entremos constantemente em confl ito com os que
seguem outros caminhos, o que acaba sendo mais uma fonte de estresse.
Um exercício para manter a mente aberta seria
comprar, de vez em quando, um jornal com tendência política diferente
da nossa, assistir à programação de uma
emissora de TV que nunca sintonizamos ou, ainda, ler um autor de cujas ideias
discordamos.
No fi
nal, nos daremos conta de que existem outros mundos dentro do nosso.
Toda queixa
contém
em si uma
agressão
CONVIVER COM
PESSOAS
viciadas
em reclamar é um tormento, pois o desgaste mental e a negatividade desse tipo
de personalidade acabam contagiando tudo ao redor. É por isso que Nietzsche se
refere à queixa em si como uma agressão, tanto para quem reclama quanto para os
pobres interlocutores.
O
mais curioso é que as pessoas que sofrem desse mal geral-mente não têm
consciência disso. Mas talvez exista uma forma de fazer com que elas enxerguem
as inconveniências de seu modo de agir. Faça com que saibam que:
•
Ninguém presta atenção de
verdade aos lamentos dos outros.
• Os que
insistem em fi car se lamentando sem parar acabam
•
Expressar uma situação negativa não ajuda a resolvê-la. Na verdade, paralisa a
ação, pois a queixa incessante se torna cansativa também para quem a produz.
Além disso, por trás da negatividade existe um
sinal de im-potência que não passa despercebido. Como afi rmava Confúcio:
“Os
que se queixam da forma como a bola quica são os que não sabem arremessá-la.”
No amor sempre existe algo de loucura e na
loucura sempre existe algo de razão JÁ QUE NOS REFERIMOS ao amor louco,
deixaremos este capítulo aos cuidados de um homem que amou a vida, o humor e o
amor com total irreverência e genialidade. Com vocês, Julius Henry Marx, ou
Groucho, para os íntimos.
O problema do amor é que muitos o confundem com
a gas-trite e, quando se curam da indisposição, percebem que estão casados.
O amor é uma insanidade temporária que só o
casamento cura.
O homem não controla o próprio destino. É a
mulher de sua vida que faz isso por ele.
Quem deseja
aprender a voar
deve
primeiro aprender a caminhar,
a correr, a
escalar e a dançar.
Não se
aprende a voar voando
FAZER
QUALQUER COISA
antes
de estar preparado gera estresse e frustração. Como diz Nietzsche neste
aforismo, quem espera levantar voo sem antes passar pelo aprendizado básico est
á con-denado a uma queda da qual não se reerguerá.
Isso nos
leva de novo aos ritos de passagem ou iniciação. O
ser
humano que conhece suas possibilidades sabe enfrentar as provas que a vida lhe
impõe, que são como degraus para que ele alcance os níveis seguintes.
Por isso é
importante, diante de um grande objetivo, saber
Quem luta
contra monstros
deve ter
cuidado para não se
transformar
em um deles
OS CÍNICOS
COSTUMAM
se
esconder por trás da maldade do mundo para dar asas à própria perversão. No
entanto, os atos alheios nunca justifi cam os nossos.
Nesta refl exão, Nietzsche faz referência às
difi culdades da vida como uma escola que pode nos endurecer ou até nos
transformar em pessoas cruéis, ainda que, no fi nal, essa seja uma opção
pessoal.
Contra os determinismos negativos, Viktor
Frankl comentou no livro Em busca de sentido que até nas circunstâncias
mais adversas o ser humano tem o direito de decidir qual será sua postura diante
do mundo. Sobre sua passagem pelo inferno de Auschwitz, Viktor relatou que
alguns prisioneiros se embrute-ciam e colaboravam em atos de tortura, agindo
contra os próprios companheiros, ao passo que outros consolavam os doentes
acamados e dividiam com eles seu
Referindo-se ao conceito budista de dor e de
sofrimento, ele afirmou: “Mesmo que não esteja em suas mãos mudar uma situação
dolorosa, é sempre possível escolher a forma de lidar com o sofrimento.”
São muitas as verdades e, por esse motivo, não
existe verdade alguma
A TENSÃO QUE
NASCE
do
apego a uma opinião imutável a respeito de tudo – o que faz o resto do mundo
parecer hostil – pode ser remediada com a prática da empatia. Basta se colocar
no lugar do outro para ver as coisas do ponto de vista dele.
No livro Os seis chapéus do pensamento,
Edward de Bono desenvolveu um jogo para transformar a mente por meio de seis
“chapéus
mágicos”, que podemos ir provando ao abordar determinado problema ou situação.
São eles:
•
Chapéu branco. Ele nos faz enxergar os acontecimentos de forma objetiva.
Essa maneira de pensar avalia os dados de forma fria e analítica.
• Chapéu
cinza. É o da lógica negativa. Ele nos leva a enxergar
o que está ruim e a prever o que pode dar errado.
• Chapéu
verde. Trata-se da forma mais criativa de pensar, que
considera apenas ideias novas, trabalhando com todas as possibilidades e
inspirações.
• Chapéu
vermelho. Faz prevalecer os sentimentos, bem como
as intuições que nascem de nossa sabedoria interior.
• Chapéu
amarelo. É o da lógica positiva, do pensamento otimista
voltado para o que é viável e seus possíveis benefícios.
• Chapéu
azul. É analítico e nos ajuda a entender como chegamos
a determinadas ideias.
A mentira
mais comum é a que um
homem usa
para enganar a si mesmo
NIETZSCHE
DIZIA QUE
“enganar os outros é um defeito relativa-mente
insignifi cante”; o que nos transforma em monstros é o autoengano.
Uma forma de mentirmos
para nós mesmos – e grande fonte de estresse – é imaginar que estamos sempre certos
e que o
Existe uma piada que ilustra muito bem esse
posicionamen-to: um motorista segue em uma estrada de mão única e escuta pelo
rádio que um carro está circulando na mesma via, mas na contramão, colocando
todo o tráfego em perigo. Após ouvir a advertência, o motorista diz: “Um carro,
não. Todos!” Para o ser humano, é muito mais fácil concluir que os outros estão
errados do que aceitar o próprio erro. É aí que nasce a depressão, pois, quando
vemos todos os outros veí culos trafegando no sentido contrário, o mundo se
transforma em um lugar hostil, que parece ter sido criado para frustrar nossa
felicidade.
Às vezes, basta assumir humildemente que você
estava errado. Como diz um aforismo indiano: “É mais fácil calçar um chinelo do
que estender tapetes por toda parte.”
Deveríamos
considerar perdido o dia em que não dançamos nenhuma vez
ESTE
PENSAMENTO
pode
parecer estranho, especialmente vindo de alguém tão atormentado como Nietzsche.
No entanto, muitos daqueles que se aproximam do abismo da existência se
elevaram antes a alturas esplêndidas.
A dança talvez seja a
expressão mais genuína da alegria humana. Na verdade, nas tribos antigas, se
dançava para evocar espíritos, atrair a chuva e também preparar o terreno para
uma caçada.
Os estudos atuais de terapia pela dança
demonstram que essa atividade, em qualquer de suas formas, tem várias aplica-
ções
curativas:
•Ao
dançar, aumentamos a consciência do próprio corpo e entendemos melhor como ele
se relaciona com as outras pessoas.
• A
dança ativa a espontaneidade e a confi ança em si mesmo.
É especialmente indicada para pessoas tímidas,
pois serve como uma forma alternativa de comunicação.
•Dançar alivia as
tensões, tanto físicas quanto psicológicas.
•
A dança nos permite conhecer
nossos sentimentos ao expres sá-los como movimentos no espaço.
Há mais sabedoria no
seu corpo do que na sua fi losofi a mais profunda
linguagem
não verbal – O que signifi cam nossos gestos?
•Acariciar o queixo: refl exão
antes de uma decisão.
•Cruzar os braços: atitude
defensiva.
•Inclinar a cabeça para
a frente: interesse
pelo que se ouve.
•Entrelaçar os dedos: autoridade,
espera por reações.
•Esfregar o olho: dúvida,
incredulidade.
•Mexer no cabelo: insegurança,
desejo de seduzir.
•Comprimir os lábios: desconfi
ança, desagrado.
•Levar a mão à bochecha:
avaliação,
refl exão.
•Levar
as mãos aos quadris: disposição para fazer ou dizer
algo importante.
•Esfregar as mãos: antecipar
algo que está por acontecer.
•Tamborilar: impaciência,
pressa.
• Olhar
para o chão: não acreditar totalmente no que está sendo
dito.
• Cruzar
as pernas, deixando um dos pés em movimento: chateação
ou impaciência.
•Sentar-se na beira da
cadeira: vontade
de ir embora.
•Sentar-se com as pernas
abertas: atitude
relaxada.
•Unir os calcanhares: medo,
apreensão.
Se fi car olhando muito tempo para o abismo, o
abismo olhará para você
O UNIVERSO É
UM ESPELHO
que nos
devolve nossos pensamentos.
Os budistas explicam: quando olhamos o mundo,
deixamos nele a nossa marca. Por isso, as pessoas negativas estão sempre
sofrendo contratempos e as positivas parecem ter muita sorte.
Esse princípio é a base de O segredo, de
Rhonda Byrne, que fala da lei da atração. Veja como isso é explicado por Lisa
Nichols, em um dos testemunhos registrados no livro: A lei da atração está em
todos os lugares. Ela atrai tudo para
você: as pessoas, o trabalho, as
circunstâncias, a saúde, a riqueza, as dívidas, a felicidade, o carro que
dirige, o lugar onde mora.
Atrai
tudo como se você fosse um ímã. Você atrai o que pensa.
Sua vida é uma manifestação dos pensamentos que
passam pela sua mente.
Sendo assim, como controlar a lei da atração
para conseguir o que desejamos? Segundo os depoimentos do livro citado, é
preciso realizar quatro coisas:
1.
Saber o que se quer e pedir ao Universo.
2.
Concentrar-se nos desejos com entusiasmo e
gratidão.
3.
Sentir e se comportar como se
o desejo já tivesse sido realizado.
4.
Estar aberto a recebê-lo.
As posições extremas não são seguidas de
posições moderadas, e sim de
posições
extremas contrárias
do
Tao Te Ching diz o seguinte: A afeição extrema significa um grande
desgaste e as posses abundantes, grandes perdas. Se você perceber quando tiver
o su-fi ciente, não entrará em desgraça. Se souber quando parar, não estará em
perigo. Dessa form a, é possível viver muito tempo.
O
chamado “caminho do meio” é um dos pilares do budismo. Para Siddhartha Gautama,
a felicidade e a ausência de problemas estão em saber encontrar o ponto
equidistante entre o fácil e o difícil, o superfi cial e o profundo, o prazer e
a dor.
Quem busca extremos corre o risco de passar da
virtude à maldade, como adverte Nietzsche, já que as paixões costumam levar a
ações desmedidas.
Encontrar o equilíbrio no momento de agir não
signifi ca ter medo nem falta de iniciativa, mas alcançar um horizonte sufi
cientemente amplo para entender que a verdade – e, o que é ainda mais
importante, a conveniência – nunca será encontrada nas posturas radicais.
Como disse Aristóteles: “A virtude consiste em
saber encontrar o meio-termo entre dois extremos.”
Preciso de
companheiros,
não de
cadáveres que eu tenha que
levar nas costas
por toda parte
SOBRE A
AMIZADE, NIETZSCHE
recomenda:
“Seja para seu amigo um leito de repouso, mas um leito duro, como uma cama de
campanha.” Sem dúvida, nossos companheiros mais valiosos são aqueles capazes de
festejar nossas vitórias, como dizia Oscar Wilde, mas também aqueles capazes de
nos fazer enxergar que estamos equivocados.
As pessoas que nos advertem sem levar em conta
o que es-peramos escutar, apenas pelo nosso bem – nem sempre as duas coisas
estão juntas: há quem censure por rancor –, são as que nos permitem melhorar.
Esta seria a defi nição de um bom amigo: al-guém diante do qual podemos nos
comportar de forma autêntica e que nos ajuda a vencer os obstáculos da vida.
E muitos desses obstáculos somos nós mesmos que
colocamos no nosso caminho.
Por isso, os grandes líderes da história não se
deixaram levar por bajuladores, mas escolheram, para fi car ao seu lado,
pessoas capazes de transmitir a própria opinião
sobre as coisas. Com companheiros assim, multiplicamos nossa compreensão do mundo
e, consequentemente, nosso poder.
Eis a tarefa
mais difícil:
fechar a mão
aberta do amor
e ser
modesto como doador
O FILÓSOFO
JIDDU KRISHNAMURTI
discorre da
seguinte maneira sobre o que signifi ca amar:
Liberdade e amor andam juntos. Amor não é reação.
Se eu o amo porque você me ama, trata-se de mero comércio, algo que pode ser
comprado no mercado. Amar é não pedir nada em troca, é nem mesmo sentir que se
está oferecendo algo. Somente um amor assim pode conhecer a liberdade. (...)
Quando vemos uma pedra pontiaguda em um caminho frequentado por pe-destres
descalços, nós a retiramos não porque nos pedem, mas porque nos preocupamos com
os outros, não importa quem sejam. Plantar uma árvore e cuidar dela, olhar o
rio e desfrutar a plenitude da terra... para tudo isso é preciso liberdade – e,
para ser livre, é preciso amar.
Essa liberdade é o que permite a duas pessoas
amarem-se sem imposição. Também está por trás do amor universal:
uma atitude generosa do indivíduo com o mundo;
dar pelo simples prazer de fazê-lo, sem esperar nada em troca, nem sequer
reconhecimento.
A arrogância
por parte de quem tem
mérito nos
parece mais ofensiva
que
a arrogância de quem não o tem: o próprio mérito é ofensivo
COM ESTE
AFORISMO,
Nietzsche faz referência ao perigo da
comparação, com a qual sempre perdemos. A comparação e a inveja que a acompanha
refl etem uma admiração mal administrada, que, em vez de ajudar na superação
pessoal, acaba agindo como um obstáculo à nossa capacidade.
Esse sentimento, defi nido como “desgosto pela
alegria alheia”, faz com que o invejoso tenha difi culdade de se relacionar de
forma positiva com o que o cerca, já que as pessoas que ele inveja costumam ser
muito próximas.
Para combater a inveja, os psicólogos
recomendam que dei-xemos de encarar a prosperidade alheia como algo que nos
de-precia. O sucesso de um companheiro de trabalho não signifi ca nosso
fracasso. Ao contrário, nos mostra o
caminho
que devemos percorrer. Quando substituímos a inveja pelo desafi o, os méritos e
as qualidades dos outros se transformam em um convite para nossa superação.
A melhor comparação é a que fazemos com nós
mesmos. De onde estamos, podemos aspirar à conquista do lugar que gostaríamos
de ocupar.
Todos os
grandes pensamentos são
concebidos
ao se caminhar
INSTRUÇÕES
PARA
um
passeio fi losófi co: 1. Abra espaço na sua agenda para um encontro consigo
mesmo, marcando dia e hora, a fi m de que nenhuma obrigação ou compromisso
possa interferir na data.
2.
Escolha um lugar que seja
inspirador para você, seja por trazer lembranças especiais ou por produzir uma
sensação de bem-estar.
3.
Escolha o dia e o horário
menos frequentados, para evitar distrações em seu passeio.
4.
Anote em um caderno as
questões que o preocupam, para pensar sobre elas em seu encontro pessoal. Tome
nota
5.
Não determine um horário para
o fi m do passeio: nunca se sabe aonde a fi losofi a pode nos levar.
Simplesmente re-torne quando sentir que o encontro chegou ao fi m.
6.Os
melhores lugares para um passeio fi losófi co são aqueles próximos à natureza,
museus, cemitérios e mesmo uma parte da cidade que você ainda não conheça.
7.
Use roupas confortáveis. A fi
losofi a não exige formalidade, mas faz mover as pernas.
Quem não
sabe guardar suas
opiniões no
gelo não deveria entrar em debates acalorados
OU, COMO
REZA O DITADO
japonês: “O que quer que
precise dizer, diga amanhã.” As discussões e os mal-entendidos que nascem das
ações impulsivas são grandes fontes de estresse.
Aquele que quer ter sempre razão acaba se
tornando impopu-lar e acumula uma longa lista de ofensas e rancores. Para
evitar isso, o escritor Richard Carlson recomenda:
• É muito
melhor lidar de forma inteligente com o mundo do
• Para
se comunicar bem, evite interromper seu interlocutor ou completar as frases
dele.
• Sempre
que decidir ser amável em vez de ser o dono da verdade, estará tomando a
decisão certa.
No fi nal das contas, se deixarmos de impor
nossas opiniões, com o tempo as outras pessoas acabarão percebendo os erros
delas sem que tenhamos que nos desgastar com polêmicas vazias.
Como diz Nietzsche, é preciso deixar que as
opiniões esfriem no gelo, a fi m de tornarmos nossa vida mais fácil.
Dois grandes
espetáculos
são muitas
vezes sufi cientes para
curar uma
pessoa apaixonada
COMO SE
APAIXONAR
envolve
projetar mentalmente a imagem da pessoa amada, em alguns casos a afi rmação de
Nietzsche pode fazer sentido. Ao substituir uma projeção por outra – por
exemplo, a de um fi lme –, podemos aliviar uma paixonite por algumas
No entanto, é conveniente analisar de onde
surge a necessidade do amor romântico, que prefere a idealização e a fantasia
ao conhecimento e ao amadurecimento do amor.
Segundo Platão – que Nietzsche achava chato –,
amar é caminhar em busca da parte que nos falta, da velha “metade da laranja”.
Essa visão é questionada atualmente por muitos terapeutas de casais, que dizem
que todo ser humano é uma “laranja inteira” e não deve esperar por ninguém para
se sentir completo e realizado.
Mesmo que estar apaixonado seja um prazer,
graças à energia que envolve os que entram nesse estado, quem busca o caminho
do meio deve colocar o amor a longo prazo e a ternura à frente das fl echadas
do cupido.
Quem declara que o outro é idiota fi ca
chateado quando, no fi nal, descobre que isso não é verdade
OS
PRECONCEITOS MARCAM
boa
parte das relações humanas e provocam uma grande carga de rancor que acaba se
mostrando difícil de administrar.
O rancor é
um mecanismo de três fases que pode ser desliga-
do se
entendermos como ele se desenvolve: 1. A primeira fase é o julgamento.
Como cada pessoa é diferente das demais, ao julgar os atos de alguém sempre
encontramos algo com que não estamos de acordo.
2. Aquilo de que não gostamos
ou que não entendemos na outra pessoa nos conduz à segunda fase: a acusação.
Tendemos a pensar em valores absolutos e nos
custa reconhecer que o mundo pode ser encarado de vários pontos de vista
diferentes.
3.
A acusação nos leva à terceira fase: a vingança. Pode ser sutil – por
exemplo, por meio de um simples afastamento
– a ponto de
aquele que a pratica não perceber o que faz.
Durante esse processo manifestamos arrogância e
superio-ridade, paralelamente à falta de compreensão e aceitação. Se deixarmos
de emitir juízos, iremos nos livrar desse mecanismo alienante.
Amigos
deveriam ser mestres
em adivinhar
e calar:
não se deve
querer saber tudo
amizade
se fundamenta na admiração e no respeito mútuos, as palavras de Nietzsche
destacam a discrição como uma característica necessária entre amigos.
Grandes vínculos se quebraram pela insistência
de uma das partes em fi scalizar a outra. No momento em que deixamos de ser
companheiros para assumir um papel paternalista, algo se rompe na amizade. A naturalidade
dá lugar à dominação e se estabelece um jogo de poder que não benefi cia em
nada a relação.
No âmbito das confi dências, é importante que
cada indivíduo tenha a liberdade de decidir quanta intimidade quer compartir
com os demais. Ultrapassar esse limite nos transforma em inva-sores e pode
acabar causando desentendimentos.
Um pensamento do escritor e fi lósofo Albert
Camus, que curio samente também é atribuído a Maimônides, refl ete muito bem
sobre o segredo da amizade:
Não caminhe na minha frente, porque talvez eu
não possa segui-
-lo.
Não caminhe atrás de mim, porque talvez eu não possa guiá-lo. Caminhe ao meu
lado e seremos amigos.
Usar as mesmas palavras
não é garantia de entendimento. É preciso ter experiências em comum com alguém
HÁ UM TRECHO
NO ROMANCE
Amor em minúscula,
de Francesc Miralles, que fala da impossibilidade de compartilhar
verdadeiramente uma experiência:
Imagine que vou fazer uma longa viagem, sem
saber quando volto, e você vai até a estação de trem para se despedir de mim.
Se depois nos comunicarmos por carta ou
telefone e nos lem-brarmos da despedida, não estaremos falando da mesma coisa,
mesmo que imaginemos que sim. A minha lembrança e a sua serão diferentes, isso
quando não forem exatamente opostas.
Você se lembra de um homem que se afasta em um
t rem e que acena da janela. Mas eu me lembro de um homem imóvel em uma
plataforma e de que ele fi cava cada vez menor. É a única coisa que podemos
compartilhar: a sensação do outro fi cando menor. Trata-se de algo que encontra
eco em nossas emoções.
Quando nos distanciamos fi sicamente de alguém,
sua presença no inconsciente se reduz progressivamente.
Talvez, nesse sentido,
o que acontece no nível óptico seja mera preparação para o que acontecerá na
mente. Mas voltemos ao início: a experiência nunca pode ser compartilhada. Ela
é servida sempre em frascos individuais.
Estava só e não fazia outra coisa além de
encontrar-se consigo mesmo. Então, aproveitou sua solidão e pensou em coisas
muito boas por várias horas
NOS NÚCLEOS
URBANOS,
encontramos
cada vez mais solteiros e gente que se sente só. Para evitar que a solidão seja
notada, essas pessoas deixam a televisão ligada o dia todo, fi cam horas e
horas navegando na internet ou se entregam a qualquer outra atividade que dissimule
o silêncio.
No entanto, também existe uma solidão criativa,
que aproxima o indivíduo de uma grande fonte de energia positiva. Quando nos
desligamos do mundo por algumas horas, nos conectamos ao nosso manancial de
sabedoria interior. É uma peregrinação em direção a nós mesmos, que assusta os
que nunca a praticaram.
Acostumados ao ruído do mundo, que confunde
tudo, muitos têm medo de estar consigo mesmos. Para evitar esse encontro
íntimo, buscam qualquer maneira de se “distrair”.
Talvez se trate unicamente de não pensar, de
evitar perguntas que precisamos fazer a nós mesmos. As transformações nos
assustam. E a solidão é, justamente, a pista de decolagem das grandes mudanças,
o palco onde nos equipamos para renascer em uma nova viagem vital.
A potência
intelectual de um homem
se mede pelo
humor que ele
é capaz de
manifestar
NIETZSCHE
FALOU VÁRIAS VEZES
sobre
a importância do humor, que considerava uma tábua de salvação para os desgostos
que a vida nos oferece: “O homem sofre tão terrivelmente no mundo que se viu
obrigado a inventar o riso.” Ele chegava até a duvidar de qualquer afi rmação
apresentada com excessiva seriedade: “Deveríamos tachar de falsa toda verdade
que não tenha sido acompanhada de um sorriso.” Vejamos os benefícios
terapêuticos do humor constatados pela medicina:
• Atua como
analgésico.
• É
um exercício aeróbico: cinco minutos de risadas equiva-lem a 45 minutos de
exercícios leves.
•Massageia os órgãos
internos.
•Reforça as defesas e
previne doenças.
•Alivia o estresse e a
fadiga.
•Libera
endorfi na,
o hormônio da felicidade.
•Promove o alívio
muscular e o bem-estar.
•Ajuda a relativizar os
problemas.
Gosto dos valentes, mas não basta ser um
espadachim: também é preciso saber a quem ferir. E, muitas vezes, abster-se
demonstra mais bravura, reservando-se para um inimigo mais digno
ASSIM
COMO O SORRISO traz benefícios óbvios para a saúde, o ressentimento não
apenas incide negativamente no estado de ânimo, como também pode desencadear
doenças e distúrbios.
Perdão
•Aumenta a pressão
arterial
•Diminui a pressão
arterial
•Gera acidez estomacal
•Facilita a digestão
•Dispara a adrenalina
•Suaviza a respiração
•Difi culta o descanso
•Estimula um sono
noturno
reparador
•Favorece o surgimento
•Promove o relaxamento
•Reforça o sistema
•Aumenta
o risco de câncer imunológico
Para terminar, vale a pena rever o que
Aristóteles disse sobre o assunto:
Qualquer pessoa pode fi car chateada e isso é
muito fácil. Mas fi car aborrecido com a pessoa certa, no grau adequado, no
momento oportuno, com o propósito justo e da forma correta, isso, certamente,
não é tão fácil.
De que vale o ronronar de alguém que não sabe
amar, como um gato?
É DISCUTÍVEL
O PRESSUPOSTO
de que os
gatos não sabem amar.
Eles simplesmente amam à sua maneira. A questão
é que nos esforçamos para ser amados por pessoas que não nutrem amor por nós.
Contra esse vício improdutivo, John W. Gardner fez a seguinte refl exão, em
“Personal Rene wal” (Renovação pessoal): O que se aprende na maturidade não
são coisas simples, como adquirir habilidades e
informações. Aprende-se a não voltar a ter condutas autodestrutivas, a não
desperdiçar energia por conta da ansiedade. Descobre-se como dominar as tensões
e que o ressentimento e a autocomiseração são duas das drogas mais tóxicas.
Aprende-se que o mundo adora o talento, mas re-compensa o caráter. Entende-se
que quase todas as pessoas não estão a nosso favor nem contra nós, mas absortas
em si mesmas.
Aprende-se, finalmente, que, por maior que seja
nosso empe-nho em agradar aos demais, sempre haverá pessoas que não nos amam.
Trata-se de uma dura lição no início, mas que no fi m se mostra muito
tranquilizadora.
Para chegar a ser sábio, é preciso querer
experimentar certas vivências. Mas isso é muito perigoso. Mais de um sábio foi
devorado nessa tentativa
EM UMA ENTREVISTA
concedida
recentemente a uma revista bra-sileira, Paulo Coelho afi rmou que muitas
iniciativas solidárias, como as de Bono Vox, não servem para nada e são apenas
boas intenções para impressionar o povo.
Para
surpresa do entrevistador, ele disse também que seria mais fácil o mundo ser
salvo por Amy Winehouse do que
pelo músico e ativista irlandês. Na sua
opinião, como a cantora, ainda muito jovem, já conhecia as profundezas do
inferno, poderia se tornar um maravilhoso exemplo para as novas gerações caso
conseguisse se recuperar.
Por outro lado, afi rmou que personagens como
Paris Hilton ou Britney Spears, que fi zeram o trajeto oposto – do triunfo à
decadência –, são um mau exemplo para a juventude.
Voltando ao discurso de Nietzsche, quem entrou
e saiu do inferno pode guiar outras pessoas com mais sabedoria do que quem
levou uma vida sem sobressaltos. Pelo mesmo motivo, o fi lósofo alemão duvidava
que um clérigo tivesse autoridade para dar conselhos matrimoniais.
O cérebro
verdadeiramente original
não
é o que enxerga algo novo antes de todo mundo, mas o que olha para coisas
velhas e conhecidas, já vistas e revistas por todos, como se fossem novas. Quem
descobre algo é normalmente este ser sem originalidade e sem cérebro chamado
sorte
EM UMA DE
SUAS REFLEXÕES
mais
célebres, Marcel Proust afi rmou que “a verdadeira viagem de descobrimento não
consiste em buscar novas paisagens, mas sim em ter novos olhos”.
Trata-se de uma
capacidade compartilhada por fi lósofos e artistas: saber encontrar o novo no
velho.
Aplicando-se esse conceito ao mundo dos
negócios, o empre-endedor é aquele que enxerga uma oportunidade onde os outros
não veem nada. Essas pessoas têm uma visão mais renovada do mundo e isso lhes
permite perceber o que a maioria – com o olhar domesticado pela monotonia –
deixa passar.
A questão é saber olhar o mundo sem fi ltros,
estimulado pela curiosidade.
O escritor e cineasta Paul Auster concluiu o
seguinte: Dizem que é preciso viajar para ver o mundo. Às vezes acho que
estando quietos em um único lugar, com os olhos bem abertos, somos capazes de
ver tudo o que podemos usar.
Quem não
dispõe de
dois terços
do dia é um escravo
WORKAHOLICS
SÃO AS PESSOAS
que
deixam o trabalho absorver toda sua vida pessoal. Talvez pelo fato de esse
comportamento ser um transtorno reconhecido há pouco tempo, praticamente não
existem tratamentos terapêuticos para ele.
O viciado em trabalho
sofre com altos níveis de estresse, pois acha que nunca dedica horas sufi
cientes à sua atividade profi ssional, o que acaba provocando danos à saúde,
bem como à vida pessoal e familiar.
E nem sempre esse tipo de conduta se traduz em
um rendimento maior e melhor. Segundo Gayle Porter, especialista no assunto, o
workaholic pode ser prejudicial a uma empresa, pois costuma dedicar muito tempo
a tarefas irrelevantes. Estatísticas revelam que esse tipo de pessoa não produz
mais que um trabalhador normal: simplesmente esquenta sua cadeira por mais
horas.
Já que nossa civilização oferece tantas opções
de atividades culturais para o tempo livre, vale a pena seguir o modelo
clássico: 8 horas para trabalhar, 8 horas para dormir e 8 horas para o lazer.
O
melhor meio de ajudar pessoas muito confusas e deixá-las mais tranquilas é
elogiá-las de forma veemente
DO MÉTODO
Dale
Carnegie para fazer amigos (e infl uenciar pessoas):
•
É inútil criticar alguém, já que ele inevitavelmente se colocará na defensiva e
tentará se justifi car. Além disso, fi cará ressentido com você.
• Conseguimos
resultados muito melhores nas relações sociais ao elogiar de forma inteligente
em vez de censurar.
• É
muito mais proveitoso e seguro corrigir a si mesmo do que tentar fazer com que
os outros se corrijam.
•
As pessoas mais populares são
as que deixam seus interlocutores falarem e se interessam sinceramente por seus
problemas.
• Em
vez de censurar os outros, é mais útil entendê-los e procurar saber por que se
comportam de certa maneira.
• Você
fará mais amigos em dois meses interessando-se pelas pessoas do que em dois
anos tentando fazer com que elas se interessem por você.
•
Qualquer idiota é capaz de
criticar, condenar e se queixar, e a maioria faz isso muito bem.
O homem amadurece quando reencontra a seriedade
que demonstrava em suas brincadeiras de criança
EIS UM TEMA
QUE
realmente
importava para Nietzsche, pois ele afi rmava que “em qualquer homem autêntico
existe uma criança querendo brincar”.
Para o fi lósofo
alemão, considerar fábulas e jogos coisas infantis é sinal de grande pobreza
intelectual, pois só as pessoas capazes de manter a curiosidade e o espírito
lúdico da infância terão sempre novos êxitos ao seu alcance.
A criança encara sua brincadeira como um
trabalho e os contos de fadas como verdade. Os cientistas, artistas e
intelectuais demonstram a mesma atitude. Por isso devemos sempre manter um pé
no mundo da fantasia.
Hans Christian Andersen disse que “os contos de
fadas são escritos para que as crianças durmam, mas também para que os adultos
despertem”.
Talvez
tenha chegado o momento de deixarmos um pouco de lado o mundo dos adultos e
começarmos a alimentar nossa alma criativa com as inspirações que a preenchiam
quando éramos pequenos.
Ninguém é tão louco que não possa encontrar
outro louco que o entenda
EM UM ARTIGO
DEDICADO
à
sincronicidade – a teoria das casua-lidades exposta por Jung –, existe uma
citação de Ernesto Sábato para explicar que as coincidências têm mais a ver com
a afi nidade do que com uma obscura lógica da sorte. Vamos tomar como
exemplo dois amigos que conviveram p or muito
tempo mas se separaram ao irem morar em países diferentes. Por mais estranho
que pareça, eles terão grande possibilidade de se reencontrar em qualquer lugar
do mundo que visitem.
E isso acontece por uma razão muito simples: se
eles têm gostos e hábitos parecidos, não é improvável escolherem viajar para a
mesma cidade – Tóquio, por exemplo – na mesma época do ano. Uma vez ali, como
os dois têm referências parecidas, irão aos mesmos lugares, no mesmo período do
dia.
Quando, após anos sem se ver, se encontram de
repente em uma livraria para estrangeiros no bairro de Ginza, os dois dizem:
“Que
coincidência!” Mas, na verdade, não poderia ter sido de outra forma.
Por outro lado, como diz Sábato, duas pessoas
muito diferentes podem viver uma ao lado da outra e não se encontrarem nunca,
nem mesmo na própria rua.
Na maior
parte das vezes que não
aceitamos
uma opinião, isso acontece por causa do tom em que ela foi manifestada AQUI
VÃO QUATRO DICAS para a arte da conversa:
• Escute
de forma ativa. É fácil distinguir os melhores interlocutores,
pois eles sabem ouvir sem interromper para expressar sua opinião. Da mesma
forma, uma atitude ausente de nossa parte faz com que o outro perca o
entusiasmo.
• Dê
sua opinião somente quando a pedirem.
Invadir o território alheio para dizer a alguém o que fazer pode causar
atritos. Julgamentos sobre assuntos pessoais só são apro-priados quando
expressamente solicitados.
•Evite
distrações. Nada é mais desmotivador para quem está falando
do que ver seu interlocutor atender o celular.
•Formule
perguntas. Quando alguém relata uma experiência ou
expõe um ponto de vista, seu discurso pode se tornar estéril se nos limitamos a
escutar. Perguntar sobre o que estão tentando nos explicar é uma ótima forma de
aprofundar o diálogo.
Acredito que os animais veem o homem como um
ser igual a eles que perdeu, de forma extraordinariamente perigosa, a sanidade
intelectual animal. Ou seja: veem o homem como um animal irracional,
um animal
que sorri, que chora,
um animal
infeliz
para a felicidade de muitas
pessoas em países desenvolvidos é o enorme espectro de necessidades inúteis
criado ao seu redor. Parece ser impossível viver satisfeito sem:
•Trocar de carro a cada
cinco anos.
•Fazer da casa atual um
“trampolim” para outra maior.
• Comprar
uma casa de praia ou de campo para os dias de folga.
•Proporcionar às
crianças atividades extracurriculares caras.
•
Viajar para tão longe e com
tanto conforto quanto os amigos e parentes.
À pressão exercida por todas essas demandas
artifi ciais é preciso somar os problemas sentimentais – e muitas vezes também
os econômicos – das pessoas que vão pulando de um relacionamento para outro.
É interessante refl etir sobre o que
necessitamos para nos sentirmos realizados na vida. Talvez a felicidade fi
nalmente chegue se conseguirmos tirar fardos dos ombros, vivendo com
naturalidade e simplicidade. Precisamos ser um pouco
Antes de se casar, pergunte a si mesmo: serei
capaz de manter uma boa conversa com essa pessoa até a velhice? Todo o resto é
passageiro num matrimônio
A ARTE DE
AMAR,
de
Erich Fromm, publicada em 1956, é uma das obras mais lidas sobre um tema que
preocupa a imensa maioria dos seres humanos. Para analisar o que sugere o
título, o psicólo-go e humanista alemão refl ete sobre o que signifi ca o amor
para a sociedade moderna:
Para a maior parte das pessoas, o problema do
amor está mais em ser amado do que em amar. Daí vem a grande questão de
conseguirem ser amadas, ser dignas do amor. Para alcançar esse objetivo, seguem
vários caminhos. Um deles, utilizado prin-cipalmente pelos homens, consiste em
ser bem-sucedido, rico e poderoso a ponto de conquistar uma boa posição social.
O
outro,
mais empregado pelas mulheres, consiste em ser atraente mediante o cuidado com
o corpo, as roupas etc.
Fromm afi rma que uma pessoa só pode amar outra
se conhecer a si mesma e respeitar a própria individualidade. Só então estará
preparada para entender e respeitar seu
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